Durante o Fórum Econômico Brasil-Índia, realizado nesta segunda-feira (7/7) no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, destacou o potencial inexplorado da relação bilateral. Ele afirmou que “o Brasil se tornou um dos principais destinos globais para investimentos estrangeiros” e avaliou que, no caso da Índia, “não teremos outra oportunidade tão grande como esta”, dada a afinidade entre os dois países e o baixo volume atual de comércio bilateral, ainda “concentrado em poucos produtos”. Viana também ressaltou a confiança do governo federal no cenário econômico. “O presidente Lula tem uma expectativa muito grande de que a gente saiba aproveitar o momento que estamos vivendo, um momento muito especial para o comércio exterior e para a economia brasileira”, afirmou. Segundo ele, “enquanto o mundo vive tensionamentos, inflação e queda nos investimentos e exportações, o Brasil segue crescendo”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não conseguiu comparecer ao evento, mas designou ao secretário-executivo do MDIC, Márcio Elias Rosa, a missão de ler seu discurso. “No atual contexto global de guerra tarifária e protecionismo, a integração entre brasileiros e indianos é estratégica. Somos duas das dez maiores economias do mundo. Contamos com mercados consumidores em expansão, empresários dinâmicos e inovadores. Mas o fluxo de comércio não está à altura da magnitude do nosso potencial. Em 2024, foram apenas 12 bilhões de dólares de intercâmbio comercial. A pauta exportadora brasileira é tradicionalmente concentrada em poucos itens. Estamos determinados a mudar esta realidade", escreveu o presidente brasileiro.
Já durante o keynote, o embaixador André Corrêa do Lago, presidente designado da conferência climática que será realizada em Belém, reforçou a vantagem competitiva do Brasil por sua matriz energética historicamente limpa e diversificada, com hidrelétricas, biocombustíveis, energia eólica e solar, e elogiou os avanços da Índia na transição para fontes renováveis. “A Índia tem acelerado a sua produção de energia eólica e de energia solar de maneira impressionante”, afirmou.
Corrêa do Lago apontou ainda que a escala populacional e o crescimento do consumo energético tornam a Índia um parceiro fundamental na construção de uma nova economia de baixo carbono, uma ambição que será central na COP30.
O Fórum foi organizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o Ministério das Relações Exteriores (MRE), a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Câmara de Comércio Índia-Brasil (CCIB) e a Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da Índia (FICCI).
A programação reuniu empresários e investidores brasileiros e indianos, além de autoridades públicas e representantes do setor produtivo dos dois países.
Veja aqui informações sobre a primeira parte do evento: https://apexbrasil.com.br/br/pt/conteudo/noticias/ApexBrasil-abre-Forum-Economico-Brasil-India-no-Rio-de-Janeiro.html
Assinatura de memorandos
O evento também foi marcado pela assinatura de dois Memorandos de Entendimento (MoU) pela ApexBrasil. O primeiro, firmado com a Câmara de Comércio Índia-Brasil (CCIB), estabelece cooperação entre as instituições para aprofundar as relações econômicas entre os dois países, com foco na promoção comercial e atração de investimentos. O segundo, assinado com a Nidec-Embraco, cuja matriz está localizada em Joinville (SC), formaliza a intenção de investir mais de 120 milhões de dólares na construção de uma nova fábrica de compressores para refrigeração residencial e comercial na cidade de Aurangabad, no estado de Maharashtra, na Índia.
Comércio e investimentos crescentes
A Índia é uma das economias que mais crescem no mundo e tem se consolidado como parceiro prioritário do Brasil. Segundo levantamento da ApexBrasil, as exportações brasileiras para a Índia aumentaram em média 13,7% ao ano desde 2019, totalizando US$ 5,3 bilhões em 2024. Os destaques da pauta incluem açúcar, petróleo, óleos vegetais e algodão bruto.
Entre as mais de 380 oportunidades comerciais identificadas, ganham relevância os setores de combustíveis, celulose e máquinas e equipamentos. O grupo “Sementes oleaginosas de girassol, gergelim, canola, algodão e outras” registrou um crescimento médio de 1.414,9% entre 2019 e 2024, impulsionado pela abertura do mercado indiano para o gergelim brasileiro.
No campo dos investimentos, a Índia foi o sexto maior investidor asiático no Brasil em 2023, com estoque de US$ 2,9 bilhões em Investimento Estrangeiro Direto (IED). Os anos de 2022 e 2023 marcaram os maiores volumes de aportes indianos no país, em setores como energia, farmacêutico e tecnologia.
Os dados estão no estudo Perfil de Comércio e Investimentos Índia, realizado pela ApexBrasil e publicado em junho de 2025.
Interação BRICS e IBAS
Brasil e Índia, membros do BRICS, participaram da cúpula do bloco realizada nos dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro. O grupo atua como plataforma de articulação entre grandes economias emergentes, com foco em promover uma ordem internacional mais justa e representativa.
A cooperação entre os dois países também se estende ao Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (IBAS), criado em 2003, que reúne democracias multiculturais com objetivos comuns: fortalecer o multilateralismo, aprofundar laços comerciais e promover o desenvolvimento social inclusivo.
Comércio exterior e investimentos impulsionam a relação bilateral entre Brasil e Índia, com destaque para os setores de energia renovável e agricultura de alta precisão, voltados à transição energética e ao combate à fome.