Empresários dos dois países participam do encontro promovido pela ApexBrasil no Museu do Amanhã, nesta segunda-feira, 7 de julho
“O Brasil se tornou um dos principais destinos globais para investimentos estrangeiros. No caso da Índia, não teremos outra oportunidade tão grande como esta, porque a relação entre os dois países não tem conflitos, são países amigos e gigantes territorial e populacionalmente. O comércio bilateral, que hoje gira em torno de R$ 12 bilhões, é ainda muito pequeno diante desse potencial, especialmente porque nossa balança é concentrada em poucos produtos. Há, portanto, um enorme espaço para crescimento em ambas as direções”, ressaltou o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, durante o Fórum Econômico Brasil-Índia, nesta segunda-feira (7/7), no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Viana lembrou ainda que “o presidente Lula tem uma expectativa muito grande de que a gente saiba aproveitar o momento que estamos vivendo, um momento muito especial para o comércio exterior e para a economia brasileira”. Segundo ele, “enquanto o mundo vive tensionamentos, inflação e queda nos investimentos e exportações, o Brasil segue crescendo”.
Com a participação de empresários e investidores dos dois países, o evento é promovido pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Câmara de Comércio Índia-Brasil (CCIB) e a Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da Índia (FICCI).
Na cerimônia de abertura, a diretora de Negócios da ApexBrasil, Ana Repezza, disse que apesar dos investimentos bilaterais terem crescido muito percentualmente, nominalmente eles ainda estão aquém das potencialidades e do tamanho dessas duas grandes economias e democracias. “A Apex apoia 52 setores da economia brasileira nos seus esforços de importação e atração de investimento, no entanto apenas nove deles têm a Índia como mercado prioritário, ou seja, tem um espaço muito grande para explorar novas potencialidades. E é isso que a gente espera que aconteça após esse encontro”, afirmou.
Também participaram da cerimônia o secretário-executivo do MDIC, Márcio Elias Rosa, do presidente da CNI, Ricardo Alban, e do secretário de Promoção Comercial, Ciência, Tecnologia, Inovação e Cultura do Itamaraty, embaixador Laudemar Aguiar.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, está otimista sobre o avanço das relações comerciais, empresariais, industriais entre Brasil e a Índia. Ele destacou algumas similaridades entre os dois países e como indianos têm puxado o crescimento mundial. “Queremos estar junto com vocês, indianos, nessa impetuosidade do crescimento econômico, do desenvolvimento social. Vamos fazer entre nossos países o que a China fez dentro dela própria: ganhou escala, competitividade, produtividade e buscou complementaridade em suas cadeias produtivas internas. Temos a oportunidade de fazer isso entre nós, como países friendly”, ressaltou
O secretário de Promoção Comercial, Ciência, Tecnologia, Inovação e Cultura do Ministério de Relações Exteriores, embaixador Laudemar Aguiar, lembrou que, às vésperas de completar 80 anos de relações diplomáticas sustentadas por valores convergentes e interesses cada vez mais próximos, Brasil e Índia atuam lado a lado na reforma da governança global, na promoção do desenvolvimento sustentável, no combate à pobreza e à fome e em busca de um sistema internacional mais equitativo e inclusivo. “Em um mundo marcado por contínua reconfiguração política, geopolítica, comercial e produtiva e unilateralismo, e diante das inúmeras incertezas do cenário internacional, torna-se cada vez mais relevante fortalecer o diálogo direto entre Brasil e Índia, duas vibrantes democracias do Sul Global, que compartilham aspirações comuns de desenvolvimento com justiça social, inserção soberana nas cadeias globais de valor e participação mais representativa nas instâncias de governança internacional”, reforçou.
Já o secretário-executivo do MDIC, Márcio Elias Rosa, destacou que o fortalecimento das relações econômicas entre Brasil e Índia passa por uma política industrial sólida e coordenada. “Não se faz comércio exterior pelo comércio exterior. Ele é resultado de uma estratégia que articula política industrial, inovação e desenvolvimento sustentável, como propõe a Nova Indústria Brasil, com foco em missões como agroindústria, saúde, infraestrutura e transição verde”, afirmou. Ele também ressaltou a importância da integração entre economias emergentes: “O presidente Lula é muito seguro desse papel que ele tem que desempenhar no mundo, no contexto em que nós estamos vivendo, em que é preciso promover a integração, a aproximação, como disse o presidente Alban [da CNI], a complementariedade, porque só assim países emergentes ou economias de países em desenvolvimento conseguirão de fato promover justiça social a partir da redução das desigualdades internas, gerando emprego e distribuindo renda”. destacou.
Memorandos de Entendimento
A ApexBrasil participou nesta manhã da assinatura de dois Memorandos de Entendimento (MoU) durante o Fórum Econômico Brasil-Índia. O primeiro, firmado com a Câmara de Comércio Índia-Brasil (CCIB), estabelece cooperação entre as instituições para aprofundar as relações econômicas entre os dois países, com foco na promoção comercial e atração de investimentos. O segundo, assinado com a Nidec-Embraco, cuja matriz está localizada em Joinville (SC), formaliza a intenção de investir mais de US$ 120 milhões de dólares na construção de uma nova fábrica de compressores para refrigeração residencial e comercial na cidade de Aurangabad, no estado de Maharashtra, na Índia.
Encerramento com presidente Lula
A programação da manhã contou com dois painéis temáticos. O primeiro tratou da transição energética e segurança, com foco em tecnologias sustentáveis e cooperação industrial. Em seguida, o painel sobre segurança alimentar teve como keynote o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro), além de representantes do agronegócio brasileiro e indiano, que abordaram estratégias voltadas à inovação e abastecimento global.
À tarde, a programação contará com discursos da presidente da Petrobras, Magda Chambriard, e do presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, antes dos painéis que abordarão temas como indústria farmacêutica, inovação, nova indústria e tecnologia. A cerimônia oficial de encerramento contará com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Comércio e investimentos crescentes
A Índia é uma das economias que mais crescem no mundo e tem se consolidado como parceiro prioritário do Brasil. Segundo levantamento da ApexBrasil, as exportações brasileiras para a Índia aumentaram em média 13,7% ao ano desde 2019, totalizando US$ 5,3 bilhões em 2024. Os destaques da pauta incluem açúcar, petróleo, óleos vegetais e algodão bruto.
Entre as mais de 380 oportunidades comerciais identificadas, ganham relevância os setores de combustíveis, celulose e máquinas e equipamentos. O grupo “Sementes oleaginosas de girassol, gergelim, canola, algodão e outras” registrou um crescimento médio de 1.414,9% entre 2019 e 2024, impulsionado pela abertura do mercado indiano para o gergelim brasileiro.
No campo dos investimentos, a Índia foi o sexto maior investidor asiático no Brasil em 2023, com estoque de US$ 2,9 bilhões em Investimento Estrangeiro Direto (IED). Os anos de 2022 e 2023 marcaram os maiores volumes de aportes indianos no país, em setores como energia, farmacêutico e tecnologia.
Os dados estão no estudo Perfil de Comércio e Investimentos Índia, realizado pela ApexBrasil e publicado em junho de 2025.
Interação BRICS e IBAS
Brasil e Índia, membros do BRICS, participaram da cúpula do bloco realizada nos dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro. O grupo atua como plataforma de articulação entre grandes economias emergentes, com foco em promover uma ordem internacional mais justa e representativa.
A cooperação entre os dois países também se estende ao Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (IBAS), criado em 2003, que reúne democracias multiculturais com objetivos comuns: fortalecer o multilateralismo, aprofundar laços comerciais e promover o desenvolvimento social inclusivo. Comércio exterior e investimentos impulsionam a relação bilateral entre Brasil e Índia, com destaque para os setores de energia renovável e agricultura de alta precisão, voltados à transição energética e ao combate à fome.
Transmissão do Fórum Econômico Brasil-Índia
Acompanhe a transmissão da segunda parte do evento no canal do YouTube da ApexBrasil