Agendas foram realizadas em Pretoria, com o apoio da Embaixada do Brasil no país. O objetivo foi trocar experiências e articular possibilidades de cooperação entre os dois países
Entre os dias 10 e 14 de junho, a diretora de Negócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Ana Paula Repezza, participou de agendas na África do Sul com foco nas temáticas de gênero, diversidade e inclusão. As conversas foram conduzidas no marco do programa Mulheres e Negócios Internacionais (MNI), iniciativa criada pela Agência em 2023 para ampliar a participação feminina no comércio exterior. As atividades aconteceram em paralelo à Missão Brasil-Africa Solutions, também liderada pela ApexBrasil, que buscou gerar e fortalecer oportunidades de comércio entre o Brasil e países do sul do continente africano (saiba mais).
Um dos encontros foi com a diretora-geral do Departamento de Mulheres, Jovens e Pessoas com Deficiência do governo sul-africano, Mikateko Joyce Maluleke, na sede da Embaixada do Brasil em Pretória. “Um dos objetivos do nosso programa MNI em 2024 é fortalecer o apoio a negócios liderados por mulheres negras, e conhecer experiências de empreendimentos exitosos de sul-africanas será de grande valia neste sentido”, reforçou Repezza.
O departamento liderado por Maluleke, que é ligado diretamente à Presidência, se foca na elaboração de políticas transversais de gênero, que servem como referência para outros órgãos do governo. “É preciso considerar a perspectiva das mulheres, seja na elaboração do orçamento, no monitoramento, na avaliação ou na auditoria das políticas. É preciso considerar as implicações de gênero no que você está fazendo”, explicou a diretora. Segundo ela, a África do Sul enfrenta, como o Brasil, desafios associados à violência de gênero, à violência política e à subrepresentação nos espaços de poder.
A área também é responsável por monitorar de que maneira o governo sul-africano facilita – ou não – as condições para que as mulheres possam empreender. O objetivo é remover as barreiras nesse sentido, facilitando o acesso delas ao mundo do trabalho. Segundo Malukeke, uma das grandes dificuldades para empreendedoras negras na África do Sul hoje é o acesso a crédito e a financiamentos em geral, um resquício do regime de apartheid que vigorou por quase meio século no país.
Intercâmbios
O Departamento tem buscado viabilizar, ainda, possibilidades de intercâmbio e trabalho conjunto com mulheres de outros países, em áreas como comércio, mineração e energia. A intenção é incluir cada vez mais sul-africanas nessas cadeias produtivas, especialmente naquelas onde elas ainda estão subrepresentadas, por exemplo na indústria do açúcar e derivados.
A diretora Malukeke também comentou que um dos maiores desafios de seu país é a inserção da tecnologia na agricultura e nos negócios rurais. “Muito da pobreza existente na África do Sul nós poderíamos enfrentar por meio da agricultura e garantindo segurança alimentar”, pontuou. Repezza mencionou a possibilidade de treinamento entre mulheres brasileiras e sul-africanas para o manejo de máquinas e equipamentos agrícolas e para a gestão de cooperativas rurais. “No Brasil, como na África do Sul, a agricultura familiar normalmente conta com liderança feminina”, lembrou a diretora de Negócios da ApexBrasil.
Outra parceria com o governo sul-africano deverá acontecer por meio de um evento multissetorial liderado pela Embaixada do Brasil em Pretória, em novembro deste ano, com foco nas agendas de gênero, raça, diversidade e empreendedorismo. A ideia é reunir pesquisadores, sociedade civil, governo e iniciativa privada com vistas à construção de capacidades, em linha com a diretriz da ONU Mulheres para o investimento em mulheres (#InvestinWomen). Mais informações serão divulgadas em breve.
She Trades na África do Sul
Também em Pretoria, Ana Repezza se reuniu com a CEO da Small Enterprise Development Agency (Agência de Desenvolvimento de Pequenos Negócios - SEDA), Ntokozo Majola, e com a especialista em desenvolvimento para exportações da Agência, Liya Cherian, para ouvir lições aprendidas e discutir estratégias de cooperação conjunta. A agência é responsável pela execução, na África do Sul, do She Trades, um programa do International Trade Central (ITC) para apoio ao empreendedorismo feminino em escala global.
“Gostaríamos de usar toda a expertise do She Trades na África do Sul para ajudar precisamente aqueles empreendimentos liderados por mulheres em regiões menos desenvolvidas do Brasil˜, pontuou Repezza, destacando também que a diversidade regional do país impacta em necessidades distintas por parte daqueles negócios, especialmente no que diz respeito à exportação.
As profissionais comentaram que a SEDA possui mais de 50 representações espalhadas no território, inclusive em áreas mais remotas e rurais. Segundo elas, isso ajuda a divulgar o apoio oferecido pela Agência a potenciais exportadoras e dá suporte às atividades de mobilização do programa. Cada hub do She Trades tem, assim, um plano próprio de trabalho, e as mulheres são incentivadas a se inscrever autonomamente.
As parcerias com outros players do comércio exterior também são valiosas para o apoio à capacidade exportadora das empreendedoras. “É fundamental mirar organizações femininas relevantes que estejam trabalhando com companhias que já exportam ou que têm potencial”, acrescentou Majola. O programa conduz, ainda, intervenções específicas com foco nas maiores necessidades identificadas em negócios liderados por mulheres. Temas como propriedade intelectual, logística e utilização de mídias sociais são comuns nessas formações.
“Às vezes, mulheres estão liderando negócios, mas o fazem de suas contas pessoais, por exemplo, sem uma conta específica para o empreendimento. São coisas simples que elas às vezes não sabem. Então, é preciso se focar em aspectos nos quais as empreendedoras tenham mais dificuldade”, reforçou Cherian. Em comum com o programa Mulheres e Negócios Internacionais, da ApexBrasil, o programa aposta também em mentorias entre exportadoras experientes e aquelas empresárias que ainda estão iniciando sua jornada no comércio exterior. Para as profissionais da SEDA, uma forma de mensurar o impacto desse suporte, sobretudo com mentorias, é o aumento nas vendas e no quantitativo de pessoas empregadas.
O Brasil deverá sediar em outubro um encontro do She Trades Brazil Hub, com a participação de diferentes países e as agências executoras do programa. Comércio exterior e exportações serão um dos eixos estruturantes do evento. A ApexBrasil está envolvida ativamente por meio do programa Mulheres e Negócios Internacionais, que conta hoje com uma ampla rede de mais de 65 parceiros, entre empresas, organizações não-governamentais e membros da academia.