Missão organizada pelo MRE, ApexBrasil e Mapa passou por quatro países, para conectar empresas e entidades brasileiras com parceiros africanos
Na última quinta-feira (06/02), em Dacar, Senegal, o Ministério das Relações Exteriores (MRE), a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) realizaram o Seminário Senegal-Brasil com a presença de autoridades dos dois países. Conforme o Perfil de Comércio e Investimentos Senegal, estudo publicado pela Inteligência de Mercado da ApexBrasil, o país deve crescer 8% em 2025, em comparação a um crescimento estimado de 6,0% em 2024, o que o tornará o mercado de crescimento mais rápido na África Subsaariana em 2025.
Assim que o presidente Lula assumiu em janeiro de 2023, ele deixou muito claro que nossa política externa deveria ter um olhar objetivo e de reaproximação com a África, e é isso que nós, ApexBrasil e MRE, buscamos com a Missão à África Ocidental. Mas não queremos apenas aumentar nossas exportações, e, sim, adensar nossas cadeias produtivas, por meio de uma maior integração entre os setores privados de nossos países.
Ana Repezza, diretora de Negócios da ApexBrasil
A missão brasileira no Senegal procurou facilitar a troca de experiências e a construção de parcerias entre empresários brasileiros e agentes econômicos senegaleses. De acordo com o embaixador brasileiro em Dacar, Bruno Luiz Cobuccio, “estamos em busca do tempo perdido, e a exploração de novas oportunidades de negócios é uma ferramenta essencial para dinamizar as relações entre Brasil e Senegal, duas nações que compartilham laços históricos de amizade, bem como afinidades sociais e culturais".
O presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Agricultura de Dacar (CCIAD), Abdoulaye Sow, destacou a importância da presença dos empresários brasileiros no Senegal, enfatizando que os dois países já construíram parcerias estratégicas em setores como horticultura, pecuária, produção de arroz, cultivo de mandioca, agricultura familiar, biocombustíveis e combate à anemia falciforme. No entanto, ele observou que “o volume de nossas trocas comerciais ainda não reflete plenamente a excelente cooperação que mantemos.”
Para Sow, a reunião multissetorial entre operadores econômicos brasileiros e senegaleses é fundamental para mudar esse cenário. “Essa é uma grande oportunidade para fortalecer nossas relações e aumentar significativamente o comércio bilateral”, afirmou.
Da Nigéria ao Senegal
A Missão África Ocidental passou por Nigéria, Gana, Costa do Marfim e Senegal e deixou uma certeza: existe interesse por produtos, investimentos e cooperação brasileira em diversos setores.
“Na Nigéria, tivemos contato com uma empresa que faz a montagem de implementos agrícolas e carros, o que representa uma oportunidade. Aqui em Dacar, conversamos com a maior empresa de transportes do Senegal, o que iniciou um diálogo que esperamos que gere resultados práticos”, contou Roberto Mischek, representante da Volkswagen Trucks and Bus. A empresa tem presença consolidada em Angola e Gana, e busca recuperar o mercado nigeriano e abrir o senegalês. “Nosso produto é muito bom para os países africanos. As condições climáticas, as condições das estradas e a utilização são muito parecidas com o Brasil”, concluiu Mischek.
No setor de chuveiros elétricos, a representante da Fame, Maria Prado, relata que o produto é uma solução brasileira e que pode ser muito útil para os países africanos. “Poucas pessoas sabem disso, mas o chuveiro elétrico, esse chuveirinho que é aquele mais barato que a gente tem no Brasil, é uma invenção brasileira. Aqui, eles só têm sistema gás, que é muito caro”. Ainda que o chuveiro elétrico seja o sistema de aquecimento de água mais barato do mundo, ainda é preciso criar uma demanda local para o produto. “Na Nigéria ainda não existe a cultura da utilização do chuveiro elétrico, mas em outros países, como o Quênia, sim. Este último país é um dos nossos maiores mercados. Em Gana, tivemos nossa melhor entrada durante a Missão”, conta a empresária.
Outro setor que teve destaque durante a Missão foi o de saúde, com a participação ativa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A instituição tem, no continente africano, uma tradição de cooperação que data de décadas. Na última reunião da União Africana, o presidente Lula anunciou que a Fiocruz também teria um escritório em Adis Abeba, Etiópia. Conforme o presidente da Fiocruz, Mario Moreira, o escritório será o grande ponto de referência da instituição no continente, alinhado ao acordo que o Brasil assinará com o Africa Centres for Disease Control and Prevention (Africa CDC). “A ideia é que, a longo prazo, seja instalada uma escola de saúde pública com vocação para abordar também temas científicos e tecnológicos, não somente saúde pública”, completou Moreira.
Ainda segundo o presidente da Fiocruz, “o Brasil tem sido procurado por vários embaixadores, ministros da saúde da África, querendo estabelecer no seu país condições de produção”.
“A experiência da Fiocruz, os contatos realizados pela Volkswagen, pela Fame, pela Baldan do setor de implementos agrícolas, pela Detronix, também do setor de saúde, com parceiros estratégicos ao longo da missão mostram que há grande espaço para que o Brasil possa aumentar em muitas exportações para o mercado africano”, concluiu Maria Paula Velloso, gerente de Indústrias e Serviços da ApexBrasil.