Espaço do Brasil no Fuorisalone, organizado pela ApexBrasil, expõe obras que revisitam o passado, fazem um resgate histórico e exploram origens e materiais nacionais
O Brasil tem datas importantes para comemorar este ano no FuoriSalone -- plataforma de negócios, promoção e posicionamento global para os principais players do setor de casa, mobiliário e equipamentos, que ocorre anualmente desde 1998 -- como o bicentenário da Independência. O evento começou nesta segunda-feira (6) e segue até o dia 12 de junho.
O curador da mostra brasileira promovida pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), intitulada “Poesia do Cotidiano”, Bruno Simões, selecionou produtos de 55 empresas que de alguma forma remetem ao passado, fazem um resgate histórico, referência às origens do Brasil, e a valorização da terra. São obras com símbolos e materiais inspirados no sertão, com influências indígenas e africanas, por exemplo.
“O momento é de revisitar o passado, valorizar a terra, autoafirmar nossa originalidade, e não inventar objetos futuristas — algo muito feito nos anos 80 e 90. Não estamos mirando no que os europeus estão fazendo, nem para tendências universais”, explicou Simões. Para ele, a competição que interessa no mercado internacional é a da originalidade, não a tecnológica.
“Procurei dar destaque a peças que mostram o que tem de original na sabedoria e inventividade brasileiras. Então, por exemplo, a cartolina nas mãos de um artista brasileiro criativo, investigativo, vira um papel machê, vira uma colagem, vira uma escultura pintada com o barro que tem uma terra roxa única do Brasil, que não tem em nenhum lugar do mundo. Essa técnica é usada para fazer até poltrona e cadeira. Trabalha com a resistência do papelão. O Brasil também tem esta curiosidade de trabalhar com a limitação. A cartolina usada é descartada de embalagem, ou seja, uma produção sustentável, um trabalho social. O artista treina o artesão no estúdio dele e produz um artigo sofisticado que valoriza toda essa cadeia”, exemplifica.
Filtro e rede
Entre os objetos que chamam a atenção na mostra estão o clássico filtro de barro, até uma rede feita de tecido usado em materiais para esportes radicais, com acabamento de matelassê e tecnologia e materiais ergonômicos. Passa também pelo uso de mármore brasileiro — justo na terra do travertino, ícone de sofisticação.
“A rede remete a essa coisa nômade de hoje, de não ter endereço fixo, não ter casa própria, viver mudando, pois é uma rede que você fecha e vira uma mala”, acrescenta o curador. Segundo Simões, com isso, o Brasil mostra a força da sua cultura, e que não é um país inexperiente. Até os anos 2000, houve um boom de mobiliário tendo como referência os móveis italianos. A atual geração de artistas busca o que é genuinamente brasileiro.
A criadora da marca Ovni, a arquiteta Rafaela Perret, 31 anos, de Belo Horizonte (MG), autora da rede futurista, é um exemplo disso. Há cinco anos ela tem um atelier que desenvolve “famílias de produtos”, composta por acessórios, roupas e mobiliários com características semelhantes. Esta é a primeira vez que ela participa de uma mostra internacional, com perspectiva de exportar seu produto. “Eu busco uma visão 'glocal’ dos produtos — uma pegada global com uma visão local”, explica. “Fiz uma pesquisa relacionada ao cosmos, às viagens espaciais. O material do produto tem toda uma referência a isso. Procurei também usar um material e uma tecnologia que abrace, mas não afunde quem deita nela, e que também leve a esportes de aventura na natureza”, explica Rafaela.
Visitantes
A brasileira Elisete da Silva, natural de São Bernardo do Campo (SP), que mora em Milão há 7 anos trabalhando como professora, visitou o espaço brasileiro nesta segunda-feira. “Senti uma nostalgia do Brasil ao ver o filtro de barro, quem não teve um desses em casa? E o que é muito de ver esteticamente é a rede”. A italiana Maria Casulo, funcionária da Universidade de Milão, disse que não sabia nada sobre o Brasil, mas ao ver a rede, lembrou que já conhecia esse artefato brasileiro.
Arte e negócios
Neste primeiro dia, a mostra brasileira contou com a presença do diretor de Negócios da ApexBrasil, Lucas Fiuza, e com o Cônsul-Geral do Brasil em Milão, Embaixador Hadil Fontes da Rocha Vianna.
“Além da estética, todos os produtos aqui expostos seguem as boas práticas de sustentabilidade, cumprindo a expectativa dos europeus. Estamos aqui mostrando isso a eles”, disse o cônsul. Fiuza também frisou a importância que o Brasil tem dado às melhores práticas em prol do meio ambiente.