No Chile, micro, pequenas e médias empresas brasileiras podem participar de licitações com igualdade de condições em relação a fornecedores locais
O Chile é visto como “trampolim” para internacionalização de startups do mundo todo, oferecendo uma série de incentivos para apoio e desenvolvimento de empresas de startups estrangeiras. O vizinho sul-americano tem agências de fomento que apoiam o empreendedorismo de empresas estrangeiras e legislação que facilita a igualdade de condições de competitividade delas em relação às empresas locais.
Este cenário foi apresentado a 15 startups brasileiras que esta semana participam do evento de lançamento do programa StartOut Brasil em Santiago, organizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimento (ApexBrasil) com apoio da Embaixada do Brasil em Santiago.
Nesta segunda-feira (13), no seminário “Ecossistema de Inovação em Santiago”, representantes do governo, aceleradoras, empresas e startups que já estão instaladas no país compartilharam o cenário de oportunidades e melhores caminhos para entrar e conquistar o mercado chileno.
A Corporação de Fomento à Produção (CORFO), agência do governo chileno que por meio de diversos programas apoia o empreendedorismo, a inovação e a competitividade com foco em promover o desenvolvimento econômico do país, tem o programa StartupChile que há mais de 10 anos recebe startups do mundo inteiro interessadas no mercado local.
“O programa nasceu para atrair talentos estrangeiros que querem se instalar no Chile e se desenvolver conosco”, explicou a Líder de Aliança Internacional da CORFO, Karen Tumani. Karen também reforçou que programas como o Startup-Chile e o StartOut Brasil permitem que o conhecimento e o desenvolvimento tecnológico circulem no mundo. “Ao compartilhar, um ajuda o outro a melhorar e aprimorar o conhecimento”, concluiu. As 15 startups brasileiras em Santiago terão a oportunidade de apresentar seus pitches para a banca avaliadora do programa. A visita está prevista para acontecer na próxima terça-feira (14).
Há facilidades no comércio bilateral entre o Chile e o Brasil ainda maiores desde o ano passado, quando foi assinado o Acordo de Complementação Econômica No 35 (ACE-35), trazendo vantagens para as empresas brasileiras em relação ao comércio, telecomunicações, tarifas e licitações. O acordo é visto como uma ferramenta para acelerar a importação de tecnologias e investimentos.
Trata-se de uma atualização de acordo comercial prévio, de 1996, responsável por eliminar tarifas de importação no intercâmbio bilateral de bens. Foram incluídos temas de natureza não tarifária, como comércios de serviços, eletrônico, telecomunicações, obstáculos técnicos ao comércio, facilitação de comércio, propriedade intelectual, e micro, pequenas e médias empresas.
Em âmbito de contratação pública, esse acordo permitirá às micro, pequenas e médias empresas participarem das licitações realizadas no Chile com igualdade de condições competitivas com os fornecedores locais. E um dos aspectos mais importantes para os empreendedores é referente ao comércio eletrônico. O acordo facilita as condições das operações eletrônicas entre os fornecedores brasileiros e chilenos de serviços e de produtos.
Há ainda outros elementos que facilitam o comércio bilateral Brasil-Chile, como a similaridade entre as línguas e a cultura. O Chile ainda é país associado ao Mercosul, o que o torna um importante parceiro do Brasil quando o assunto é importação e exportação. De acordo com dados da balança comercial, em 2021 o intercâmbio entre Brasil e Chile estabeleceu recordes históricos. O fluxo comercial bilateral totalizou US$ 11,421 bilhões e o saldo em favor do Brasil atingiu a cifra de US$ 2,547 bilhões.
Sustentabilidade e inovação
As áreas de maior interesse do Chile neste momento são as que envolvem sustentabilidade. “Nosso foco agora tem sido muito a descarbonização e energias renováveis não convencionais. Mas também valorizamos muito as tecnologias alimentares, melhorias de processos, os setores de mineração e agroindústria, bem como as áreas de tecnologia financeira e digitalização comercial”, afirmou Karen Tumani.
A ministra interina do Ministério de Ciência, Tecnologia, Conhecimento e Inovação do Chile, Carolina Gainz, apresentou a missão do governo chileno de articular e gerenciar estrategicamente a geração de conhecimento e o desenvolvimento científico-tecnológico do país, promovendo a democratização do conhecimento, inclusão, transdisciplinaridade, descentralização territorial e cooperação público-privada.
Segundo ela, para o governo chileno é muito importante fortalecer o tema de inovação com o Brasil e todos os países da América Latina. Ela disse que o StartOut Brasil é muito importante porque fortalece a relação existente de cooperação entre os dois países e as iniciativas de base científico-tecnológico que agregam valor ao conhecimento desenvolvido em ambos.
“Entre Brasil e Chile existem inúmeras possibilidades de cooperação na área de inovação que envolvem o intercâmbio de experiências, conhecimentos e boas práticas, além de estabelecer negócios e parcerias comerciais”, afirmou o ministro conselheiro da Embaixada do Brasil no Chile, Fabio Antibas, também responsável pelos negócios do Brasil no país.
Segundo ele, na última década, Brasil e Chile adotaram políticas públicas e estratégias consistentes na área de inovação, o que mostra a importância que os diferentes governos dão a esse setor. No âmbito da inovação, as iniciativas bilaterais vão além do apoio às startups. Antibas citou o projeto chileno do cabo Humdbolt, que o Brasil aderiu no ano passado.
O cabo Humdbolt, projeto de cabo submarino de fibra ótica que unirá a América do Sul com a Oceania e a Ásia, ampliará significativamente a conectividade do continente com uma das regiões mais dinâmicas do mundo”. O cabo, que contará com sistema de oito fibras ópticas e terá capacidade inicial de transmissão de dados de até 400 Gbps, pretende conectar Valparaíso (Chile) a Sydney (Austrália), passando por Auckland (Nova Zelândia), em um total de 14.810 quilômetros de extensão.
O programa StartOut Brasil
O StartOut Brasil atende empreendedores brasileiros de negócios tecnológicos que desejam realizar uma imersão nos mais promissores ecossistemas de empreendedorismo do mundo e expandir seus negócios para esses destinos. O programa seleciona startups brasileiras já estabelecidas, que estejam faturando preferencialmente acima dos R$ 500 mil no acumulado total ou que tenham recebido algum tipo de investimento.
O programa é realizado pela ApexBrasil, pela Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia (Sepec/ME), pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).
Criado em 2017, o StartOut Brasil já realizou 11 ciclos de internacionalização em 9 países, como China, Estados Unidos, França, Alemanha, Canadá, Colômbia, Portugal, Chile e Argentina. Este que acontece agora em Santiago é o 12o ciclo do programa. De acordo com o relatório do Ministério da Economia sobre os quatro anos do StartOut Brasil, entre 2018 e 2021, o programa fez mais de 220 atendimentos, atendeu 149 startups e gerou mais de US$ 16 milhões em negócios.
ApexBrasil
A ApexBrasil atua para promover os produtos e serviços brasileiros no exterior e atrair investimentos estrangeiros para setores estratégicos, apoiando atualmente cerca de 15 mil empresas em 80 setores da economia brasileira. Também já atendeu mais de 1.300 investidores e mais de 118 projetos no valor de US$ 23 bilhões em investimentos anunciados no Brasil. A Agência faz parte do Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil, por meio do qual conta com mais de 120 escritórios no mundo, e trabalha em estreita colaboração com outros ministérios, órgãos reguladores e entidades de classe.
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