Para a Agência, o mercado internacional e a atração de investimentos são motores para o desenvolvimento sustentável
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) tem promovido e apoiado iniciativas que abarcam a proposta da biossocioeconomia. Nesse modelo de geração de renda são priorizados, além do crescimento da economia, a preservação dos recursos naturais e a promoção da dignidade humana das populações locais. O objetivo é manter a infraestrutura natural necessária para viabilizar o processo econômico de maneira contínua e sustentável, compatibilizando a produção com as condições de preservação da natureza e de preocupação com o capital humano e a sociedade de forma geral.
Para o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, o comércio exterior e a atração de investimentos são fundamentais para promover o desenvolvimento de uma economia sustentável. “As exportações e os investimentos estrangeiros são motores para o desenvolvimento sustentável. Economias ligadas ao comércio internacional são mais produtivas e competitivas, têm acesso a novos produtos e tecnologias e geram empregos mais qualificados. Tudo isso contribui para a sustentação dos pilares econômico, social e ambiental”, afirma Viana.
Desde o início da nova gestão, em 2023, a Agência se apresenta comprometida com critérios que abarcam questões sociais e ambientais. O estímulo à biossociodiversidade, por exemplo, está alinhado com um dos objetivos estratégicos da Agência de promover internacionalmente a cultura e os produtos dos diferentes biomas brasileiros, que geram desenvolvimento sustentável para as regiões e suas comunidades.
Parte da missão e premissa para o alcance dos objetivos da Agência é a promoção da imagem do Brasil no exterior enquanto parceiro de negócios, dimensão para a qual a sustentabilidade ambiental é fundamental. “É do Brasil, é sustentável e é para o mundo todo” foi o lema de campanha da ApexBrasil em 2023, mostrando seu compromisso com a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental. O tema permeia boa parte das ações e está presente em projetos e convênios celebrados com entidades setoriais em todo o país.
Ainda em 2023, a Agência teve protagonismo nos debates da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas - COP 28, com a organização do Pavilhão Brasil em Dubai, que sediou 138 eventos e apresentou as políticas do país nas áreas de preservação ambiental, energias renováveis e bioeconomia. O pavilhão recebeu um público estimado de 13 mil pessoas ao longo da conferência.
Promovendo a biossocioeconomia
Em 2023, um grupo de compradores internacionais foi convidado pela Agência a conhecer pessoalmente produtores de alimentos nativos da região amazônica, como açaí, cacau e castanhas. O Exporta Mais Amazônia, realizado no Acre, gerou mais de R$ 50 milhões em negócios que foram reinvestidos na região. “Nosso objetivo é que o mundo conheça a riqueza cultural e produtiva abrigada nas nossas florestas. Produtos como açaí, cacau, castanhas, óleos essenciais e artesanato indígena, frutos de tradições milenares, podem ser consumidos internacionalmente, configurando uma alternativa à exploração predatória, que contribui para a manutenção da floresta em pé”, ressalta Jorge Viana.
Em novembro deste ano, mais uma edição do Exporta Mais Amazônia será realizada, desta vez na cidade de Belém do Pará. Empresas da região Norte que produzem ou comercializam açaí, castanha-do-Brasil, pescados amazônicos, temperos, molhos de pimenta e geleias vão participar de rodadas de negócios com compradores estrangeiros selecionados e trazidos ao Brasil pela Agência.
Também em linha com a defesa da sustentabilidade e da promoção da diversidade regional no comércio internacional, foram lançados, ao longo dos últimos dois anos, editais que incentivam empresas amazônicas a participarem de feiras internacionais de produtos naturais, como ocorreu esse ano nos Estados Unidos (Plant Based e Expo East). Além disso, a Agência tem trabalhado no fortalecimento do Programa de Imagem e Acesso a Mercados do Agronegócio Brasileiro (PAM Agro), focado em ações de promoção de imagem do agronegócio brasileiro na Europa.
Foco na biossociodiversidade
Em fevereiro deste ano, a ApexBrasil realizou a primeira reunião da Mesa Executiva de Exportação de castanhas-do-Brasil, em Belém (PA). A castanha-do-Brasil é um produto da biossociodiversidade. Extraída por comunidades da região amazônica em áreas de manejo florestal, a oleaginosa não é só uma opção de lanche saudável e rico em selênio, mas também uma fonte de renda para quem mantém a floresta em pé. A iniciativa, liderada pela Agência, tem como objetivo promover a internacionalização do setor, removendo os gargalos para o comércio exterior.
Apesar de ser uma espécie nativa da Amazônia, o Brasil tem uma baixa participação nas exportações de castanhas-do-Brasil. “O desafio para os produtores brasileiros é reverter esse cenário, levando o produto beneficiado para consumidores de alto poder aquisitivo, dispostos a remunerar a produção”, explica o gerente de Agronegócio da ApexBrasil, André Muller.
Uma das participantes da Mesa Executiva de Exportação de Castanha é Elisângela Dell-Armelina, gerente de produção da cooperativa COOPAITER, criada em 2017. Formada por cerca de 200 famílias do povo Índigena Paiter Suruí, de Rondônia, a missão do grupo é agregar valor para os produtos da floresta e de atividades tradicionais, buscando alternativas de renda para a população.
“A gente busca mercados conscientes da importância da conservação da Amazônia”, explica.
O potencial dos biomateriais
Com o objetivo de estimular a produção de biomateriais para a indústria de calçados no Brasil, a ApexBrasil e a Associação Brasileira das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) vêm realizando, desde o primeiro semestre do ano, uma série de visitas técnicas e oficinas no Acre. A iniciativa, chamada de missão de biomateriais no Acre/Amazônia, está identificando pessoas, produtos e oportunidades de internacionalização de recursos naturais utilizados de forma sustentável e ambientalmente responsável.
Uma das oficinas foi realizada na cidade de Cruzeiro do Sul, no dia 2 de outubro, e reuniu mais de 40 artesãos, que compartilharam suas experiências e apresentaram seus trabalhos e técnicas aplicadas. “Com a criatividade, a ancestralidade e a originalidade do povo acreano esses produtos podem alçar voos no mercado internacional”, ressalta a gerente de Indústria e Serviços da ApexBrasil, Maria Paula Velloso. Ela explica que desde maio a Agência e a Assintecal vêm trabalhando na identificação de biomateriais que possam compor produtos como calçados, bolsas e cintos.
O potencial dos biomateriais já é percebido por quem exporta e está ganhando o mundo com o uso responsável de matéria-prima natural. Quem conta a sua experiência é a empresária Isabel Ribeiro, proprietária da Amarjon Biojoias, que vende biojoias banhadas a ouro para nove países do G20, entre eles Japão, EUA, Itália e Canadá. Seu produto tem forte apelo ambiental e se encaixa nas tendências do comércio internacional.
“Nós temos uma preocupação muito grande com a questão ambiental”, explica Isabel, que faz suas joias a partir de elementos da natureza. “Nossos materiais são colhidos apenas no período que não possa agredir o meio ambiente, pois nós respeitamos o ciclo da natureza”, afirmou a empresária no ApexPod, o podcast da ApexBrasil. Segundo ela, uma biojoia é uma joia feita com elementos da natureza. “São folhas, flores e sementes que passam por uma técnica que possibilita que elas sejam banhadas a ouro”, conta.
A Amarjon Biojoias participou do Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX) da ApexBrasil e se capacitou para atender às exigências do mercado internacional. A exportação, que parecia difícil, se tornou aliada no crescimento da empresa e na qualificação de seus processos e produtos. “A exportação fez com que buscássemos nos aperfeiçoar, melhorar nossos processos internos. Tanto clientes do Brasil quanto clientes do exterior são beneficiados. Tem sido um aprendizado e uma melhoria contínua”, finaliza.
Exporta Mais Brasil
Outro programa destaque é o Exporta Mais Brasil, que coloca frente a frente compradores internacionais com empreendedores brasileiros de todas as regiões do país. O programa completou um ano em agosto deste ano e os resultados são notáveis: foram realizadas 5.145 rodadas de negócios entre compradores internacionais e empresas brasileiras, gerando uma expectativa de R$ 469 milhões em negócios. Ao todo, 738 empresas de todas as regiões do país já foram beneficiadas.
Com foco em políticas de inclusão e desenvolvimento regional, o Exporta Mais Brasil possui uma lista de critérios gerais de ranqueamento para selecionar as empresas participantes. Além de obrigatoriamente atender ao perfil definido pelo regulamento, empresas das regiões Norte e Nordeste e/ou lideradas por mulheres têm pontuação extra no processo seletivo.
A próxima edição do programa ocorrerá na capital do Amazonas, Manaus, entre os dias 25 e 28 de novembro. O setor de cosméticos e seus ingredientes estará no centro das rodadas de negócios entre 30 empresas brasileiras e 13 compradores estrangeiros. Durante o evento, haverá visitas técnicas ao Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA), ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e ao Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial (CIDE). Além disso, os compradores estrangeiros vão participar de uma imersão na floresta com o objetivo de conhecer a origem das matérias-primas utilizadas de forma sustentável em boa parte dos produtos.
“Realizar essa rodada do Exporta Mais Brasil em Manaus e atender um setor com grande potencial de exportação como o de cosméticos é muito simbólico. Demonstra esse olhar e o compromisso da ApexBrasil com a promoção comercial e geração de riqueza a partir do respeito à diversidade regional e social e consciência ambiental”, afirma a diretora de Negócios da ApexBrasil, Ana Repezza.
Internacionalização de startups
O apoio a startups, que chegaram ao mercado com soluções que aumentam a eficiência produtiva, é outra frente de trabalho da ApexBrasil. Um dos casos de sucesso é a startup BioUs. A empresa trabalha com a produção de bioplásticos a partir dos resíduos da produção de pescados e participou do programa Startup OutReach Brasil, realizado pela ApexBrasil em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Ministério das Relações Exteriores (MRE), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec). A startup chegou ao mercado asiático para oferecer uma tecnologia sustentável e estabeleceu parceria com um centro de pesquisa no país.
A ideia surgiu quando o biomédico Raimundo Lima da Silva levou os conhecimentos do laboratório de genética para o campo, especificamente para a aquicultura. Ele percebeu que uma bactéria usada no seu centro de pesquisa poderia ser útil na produção de pescados. O microrganismo se alimenta de toxinas e as transforma e um polímero biodegradável. Colocada em um tanque de peixes, essa bactéria limpa a água e ainda gera os bioplásticos, extraídos com a tecnologia desenvolvida e patenteada pela BioUs. De acordo com Raimundo, CEO da empresa, a aquicultura convencional demanda de 15 a 20 mil litros de água para produzir um quilo de pescado. Com a inovação proposta e patenteada pela startup, esse montante cai para 120 litros.
Além de contribuir para tornar a produção de pescados mais intensiva, o biopolímero, por usar dejetos como insumo principal, também se torna uma opção mais barata do que outros plásticos biodegradáveis. Em Singapura, a BioUs encontrou parcerias para desenvolver a tecnologia e escalar a solução. “O movimento agora é desenvolver patente, desenvolver produtos, com segurança jurídica para então trabalhar com escala”, explica Raimundo.
Investindo em sustentabilidade
Setores prioritários da ApexBrasil, como o de investimentos, também passaram por adequação à temática ambiental. Em parceria com o Fórum Econômico Mundial, a ApexBrasil mapeou os compromissos climáticos de empresas multinacionais para as oportunidades de investimento em estados como Amazonas e Bahia e criou um conjunto de projetos de investimento favoráveis ao clima, que ajudam as multinacionais a cumprirem seus compromissos e as empresas brasileiras a expandirem mercados.
Um exemplo dessa aliança aconteceu entre a Manioca, empresa do Pará que trabalha com ativos da biodiversidade amazônica, e a Ajinomoto, multinacional japonesa de alimentos. A Manioca produz molhos e temperos para refeições, provenientes de mais 20 ativos da biodiversidade da Amazônia. “Eu olho para a população da região para tentar criar um movimento de industrialização, porque esses produtos podem gerar mais valor, empregar mais gente, gerar inovação e tecnologia, retendo o valor gerado no próprio território”, destacou Paulo dos Reis, fundador e CEO da empresa. O empresário explica que um quilo de mandioca sai do campo custando cerca de um real, mas que, ao ser beneficiados pela Manioca, chega a 120 reais. Os 119 reais que ficam na região contribuem para o desenvolvimento local. Agora, com investimento da Ajinomoto do Brasil, a empresa deve ampliar a produção.