Evento inédito promoveu diálogo entre entidades setoriais do agro e representantes do governo, consolidando as diretrizes para a internacionalização do agronegócio brasileiro nos próximos anos
Em um contexto de novos mercados abertos, diplomacia presidencial ativa, recordes de safra e de exportação, os principais atores do agronegócio brasileiro discutiram o posicionamento do setor no mundo. O I Encontro Nacional do Agro ocorreu em conjunto com o V Encontro de Adidos Agrícolas, na sexta-feira, dia 24. Os eventos, organizados pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), em parceria com o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), reuniram presidentes e diretores de mais de 20 entidades setoriais, autoridades do governo e adidos agrícolas de todos os postos no exterior.
O objetivo do encontro foi promover um amplo diálogo entre entidades setoriais e representantes do governo, um marco inédito na busca por estratégias estruturadas para potencializar o papel do agronegócio brasileiro no cenário global. Estiveram presentes os adidos agrícolas brasileiros dos 28 postos distribuídos em todos os continentes, que contribuíram com sua experiência na inserção internacional do agro. No total, foram realizados sete painéis que debateram o panorama de exportações de diferentes setores.
De acordo com o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, a troca de experiências propiciada pelo encontro pode revelar mais sobre as oportunidades de exportação do que próprias estatísticas de comércio exterior. “Aqui há uma inteligência fundamental para o sucesso do agro no mundo, que está nas entidades privadas e também dentro do governo, nos ministérios, nas embaixadas, nas adidâncias. E eu sei que o que conta é justamente criar uma sinergia positiva. Esse encontro colabora para decidirmos qual a estratégia será adotada, para que todos se insiram e façam os movimentos necessários para atingir os objetivos que levarão o agro brasileiro ainda mais longe”, salientou.
A programação incluiu, ainda, a assinatura de Acordos de Cooperação Técnica entre a ApexBrasil e o MAPA e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA). O secretário adjunto de Inovação e Tecnologia do MAPA, Cléber Soares, garantiu que o acordo ocorre em momento oportuno, frente aos desafios globais de segurança alimentar, climática e energética, em que o mundo conta com o agro brasileiro. “A cooperação só vem a alavancar a parceria entre ApexBrasil e MAPA. Estamos de mãos dadas. Em 10 meses já abrimos 65 mercados, o que demonstra a pujança dessa relação”, reforçou.
Em nome do MDA, a secretária-executiva Fernanda Machiaveli comemorou o acordo com a ApexBrasil, cujo objetivo é estimular a participação de mais mulheres produtoras rurais, do contexto da agricultura familiar, no esforço exportador brasileiro. “As mulheres rurais ainda encaram mais dificuldades do que as urbanas para alcançarem sua autonomia econômica. E esse acordo vai facilitar justamente isso. Vamos fazer com que os empreendimentos liderados por mulheres que já estão mais maduros possam ser viabilizados no contexto exportador”, explicou.
Visão de futuro
Em uma sessão especial do evento, o gerente de Agronegócios da ApexBrasil, Laudemir Müller, aproveitou a reunião de todos os representantes das diferentes entidades do agronegócio para apresentar as principais diretrizes da Agência que devem nortear os projetos setoriais nos próximos anos: sustentabilidade, equidade de gênero, regionalização e imagem.
Seguindo esses pilares norteadores a ApexBrasil pretende, até 2024, executar projetos setoriais com 27 entidades parceiras. Para isso, será investido o montante de R$ 240 milhões em ações e projetos voltados para o agro, sendo que R$ 150 milhões serão aplicados pela ApexBrasil. “Nossa estimativa é fechar 2023 com US$ 89 bilhões em exportações dos nossos projetos. Mas queremos chegar em 2024 com US$92 bilhões, mais um recorde”, detalha Müller.
A expectativa da Agência para o próximo ano é apoiar cerca de 2.254 empreendedores, produtores e cooperativados brasileiros do setor de agronegócio que desejem entrar no mercado internacional nos próximos anos. A previsão é que sejam realizadas 179 ações de promoção comercial e 82 ações de imagem nos próximos dois anos. As iniciativas visam fornecer uma ponte entre as empresas, produtores e cooperativas apoiadas e compradores de 38 países diferentes. Müller explica: "Vamos ofertar oportunidades de negócios para nosso produtor rural — será em formato de rodada ou feira de negócios, projeto comprador ou missão”.
Novas diretrizes
A inserção de mais empresas do Norte e Nordeste e de mais empresas lideradas por mulheres faz parte das metas da atual gestão da ApexBrasil. Além de iniciativas exclusivas para esses grupos, todas as ações da Agência têm contado com critérios de seleção que valorizam esses grupos ainda sub-representados nas exportações brasileiras.
No âmbito da sustentabilidade, Müller salientou o potencial Brasileiro em trabalhar essa pauta, aliada à produtividade. Ele lembrou que o governo federal está comprometido a converter, até 20230, 40 milhões de hectares de pastagens degradadas, que emitem carbono, em produção que capte carbono. “Outros países conseguem aumentar a produção de alimentos ou conseguem ter uma relação importante com a mudança climática, mas nós conseguimos fazer isso ao mesmo tempo. É isso que nos diferencia, então hoje não tem solução para os desafios globais que não passe pelo Brasil” ressaltou.
Por fim, ele destacou a importância de trabalhar a percepção do agronegócio brasileiro no exterior. “Quando falamos de imagem, estamos falando de projetar uma narrativa de um modelo de agricultura tropical único, produtivo e inovador. É o que temos no Brasil e precisamos projetar isso, cada setor com a sua narrativa, a partir da sua realidade de produção. Mas também temos que ter essa narrativa comum, para cada um dos nossos produtos” acrescentou Müller.