Estratégia brasileira frente às tarifas norte-americanas une soberania, diplomacia e inteligência de mercado para abrir novos caminhos no comércio exterior
Nos últimos anos, graças à estratégia diplomática do presidente Lula, o Brasil tem reforçado sua posição no mundo como um parceiro comercial confiável. Nossa atuação é marcada pela incessante defesa do multilateralismo, princípio compartilhado pelas principais potências globais e que acaba isolando os Estados Unidos em sua decisão de impor tarifas unilaterais, fragilizando relações históricas e gerando tensões políticas e diplomáticas. O Brasil acredita no diálogo aberto, na cooperação e na construção de soluções conjuntas para o comércio internacional e segue firme na sua posição.
As tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros, anunciadas em julho de 2025 (EO 14323), nos colocam diante de um desafio histórico, mas também de uma oportunidade estratégica. Não se trata apenas de uma disputa comercial. É uma prova da resiliência do Brasil, da força do nosso setor produtivo e da capacidade nacional de se reinventar em cenários adversos.
O Brasil é um país soberano. Isso significa que temos autonomia para decidir os nossos caminhos, valorizando o diálogo e as parcerias internacionais, mas sem abrir mão de defender nossos interesses. Essa soberania se expressa também na nossa capacidade de garantir alimentos, energia e produtos essenciais ao mundo, de forma sustentável e responsável. Em agosto de 2025, mesmo em meio ao tarifaço, a balança comercial brasileira registrou exportações de US$ 29,8 bilhões, com crescimento expressivo em vários mercados: alta de 31% para a China, quase 28% para o Mercosul, 43% para o México, 7% para o Japão, 58% para a Índia e 23% para a Indonésia, entre outros. Houve queda de 18% nas vendas para os Estados Unidos, mas o saldo comercial permaneceu robusto, reforçando a tendência positiva das exportações brasileiras.
É claro que o tarifaço gera desconforto. Os Estados Unidos são o nosso segundo maior parceiro comercial, atrás apenas da China. Só em 2024, exportamos cerca de US$ 40,4 bilhões para os americanos, equivalentes a 12% da pauta exportadora nacional. São mais de 200 anos de relações diplomáticas e de uma parceria que também gera benefícios para a economia norte-americana. Essa medida de impor tarifas não faz sentido comercialmente e não era o desfecho desejado, mas foi o caminho adotado pelo governo norte-americano. Agora, precisamos trabalhar com os fatos e buscar alternativas para o setor produtivo brasileiro.
Precisamos ser realistas: 55% do que exportamos para os EUA segue sujeito ao tarifaço, o que exige respostas rápidas e inteligentes. Os 694 itens que entraram na lista de isentos dessa taxação representam 45% da exportação brasileira, cerca de US$ 17,9 bilhões, o que representou um importante avanço. Mas precisamos seguir lutando. Nossa postura é clara: queremos dialogar, preservar o comércio bilateral e, ao mesmo tempo, defender as nossas empresas com responsabilidade.
O presidente Lula reagiu com serenidade e firmeza, lançando o Plano Brasil Soberano, que destina R$ 30 bilhões para apoiar empresas impactadas. A ApexBrasil, por sua vez, tem trabalhado lado a lado com o governo e o setor privado para oferecer alternativas reais às empresas brasileiras.
Reforçamos a presença da Agência em Washington-DC, em parceria com a Embaixada do Brasil, a AmCham, o Itamaraty e o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), para manter o diálogo direto com autoridades e empresas norte-americanas. Queremos mostrar que o Brasil não fecha portas, mas também não ficará refém de decisões unilaterais.
Um exemplo recente de como estamos transformando desafios em oportunidades foi o Encontro Empresarial Brasil-México, realizado no final de agosto, com a presença do vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin. Reunimos, na Cidade do México, autoridades brasileiras e mexicanas e mais de 250 empresários dos dois países. O encontro resultou em novos compromissos que ampliaram o comércio bilateral, fortaleceram cadeias produtivas e abriram espaço para produtos brasileiros em setores estratégicos do mercado mexicano. Essa é a demonstração prática de que a diplomacia econômica brasileira está viva e trazendo resultados.
Nosso empenho ganhou ainda mais força com o estudo recém-publicado pela gerência de Inteligência de Mercado da ApexBrasil, que analisa os impactos das tarifas em cada Unidade Federativa e identifica mercados alternativos para 195 produtos altamente expostos ao mercado norte-americano. Intitulado “Diversificação de Mercados por Estados Brasileiros”, o material já está disponível gratuitamente no site da ApexBrasil.
Nesse estudo, mapeamos estado por estado os mercados mais dependentes das exportações para os norte-americanos, para compreender com precisão quais cadeias produtivas e setores estão mais expostos. A partir desse diagnóstico, a ApexBrasil vai atuar buscando alternativas concretas para inserir esses produtos em novos mercados, diversificando destinos e reduzindo riscos para as empresas brasileiras. A Agência vem trabalhando a diversificação de mercados como uma constante, baseando-se em um princípio de mitigação de riscos. Já identificamos mercados alternativos em todas as regiões do mundo – União Europeia, Ásia,
América do Sul, Oriente Médio e África. Encontrar novos destinos e novas parcerias é, portanto, um caminho totalmente possível para o Brasil.
Toda crise abre espaço para crescimento. O Brasil já tem a imagem consolidada de parceiro confiável, e nossa meta é transformar esse momento em mais um passo rumo à diversificação e à internacionalização das empresas brasileiras. Somos uma nação com voz ativa, ativos estratégicos e parceiros relevantes. E, acima de tudo, somos um país que não desiste do diálogo.
O tarifaço nos desafia, mas também nos mobiliza. Estamos prontos para enfrentar esse cenário com inteligência, diálogo e estratégia, defendendo as empresas brasileiras e abrindo novos caminhos para o futuro do Brasil no comércio internacional.