Evento da ApexBrasil reuniu adidos agrícolas e representantes da indústria alimentícia brasileira, que destacaram o bom desempenho do setor em 2023 e os desafios para os próximos anos. A assinatura de novos acordos de cooperação também foi destaque nesta primeira edição do Encontro
O Encontro Nacional do Agro, ocorrido na última sexta-feira (24), em Brasília (DF), encerrou com êxito a sua primeira edição. O evento foi organizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (ApexBrasil) e pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), e ocorreu de forma simultânea ao V Encontro dos Adidos Agrícolas. Com o tema ‘Resultado das Exportações e Estratégias para 2024’, o objetivo do encontro foi promover um amplo diálogo entre entidades setoriais e representantes do governo, um marco inédito na busca por estratégias estruturadas para potencializar o papel do agronegócio brasileiro no cenário global. Na ocasião, estiveram presentes adidos agrícolas brasileiros dos 28 postos distribuídos em todos os continentes, o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, e outras autoridades.
Jorge Viana inaugurou a cerimônia de abertura destacando a importância de encontros como este e reforçando o papel fundamental do Brasil no enfrentamento às mudanças climáticas. "O Brasil virou a chave. Não há mais aumento de desmatamento, está havendo uma redução”, afirmou. “Nós estamos falando do Brasil. Um país que tem uma força e um potencial inimaginável para enfrentar essas crises do mundo vivo. Quem tem as melhores opções é o Brasil. Seja pelo modelo de matriz energética, seja pelas propostas de hidrogênio verde, hidrogênio azul, sem etanol, de milho, de cana. Ninguém chega perto da gente nesse aspeto", complementou.
Viana falou ainda sobre o lançamento do Exporta Mais Amazônia no Acre, ocorrido no último sábado (25). A iniciativa é parte do programa Exporta Mais Brasil, dedicado a trazer ao país compradores internacionais para ajudar pequenos vendedores a começarem a exportar. "Isso é um programa fantástico. Nós já ajudamos a vender R$200 milhões em 10 edições do programa", destacou. Viana aproveitou a ocasião para elogiar o trabalho da ApexBrasil, do MAPA e de todos os envolvidos na missão de levar o agronegócio brasileiro para o mundo.
Já o Secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), Roberto Perosa, apresentou dados que mostram o crescimento da participação do agro no total de exportações brasileiras em 2023 e destacou a abertura de 65 novos mercados no cenário internacional - o que, para ele, vai muito além da simples relação comercial entre os envolvidos. "Isso significa que as pessoas que trabalham naquela empresa vão poder ter a chance de ter um retorno melhor, uma remuneração melhor, porque a empresa vai crescer. Vai crescer o IDH da região daquela empresa. Significa que as pessoas do entorno da empresa, os terceirizados, vão ter a possibilidade de ter mais renda", explicou, reiterando o desenvolvimento que esse tipo de negócio traz para o interior do país.
Para ele, o Brasil está vivendo um novo momento: o da retomada das relações amistosas com outros países, melhorando as relações comerciais e facilitando o trabalho tanto das adidâncias quanto do ministério.
A tarde de sexta-feira seguiu com uma série de debates entre representantes de entidades do setor alimentício brasileiro, que trouxeram um panorama sobre exportações e perspectivas para o agro nos próximos anos.
Proteína animal
O primeiro painel tratou do mercado de proteína no Brasil, e contou com a moderação da gestora de Projetos de Agronegócios da ApexBrasil, Rafaela Albuquerque. Participaram do debate o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), Antonio Camardelli, o Diretor Executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (ABIPESCA), Jairo Gund, e o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin. Em suas palestras, eles apontaram os números crescentes das exportações das proteínas, destacando também o grande impacto socioeconômico e de geração do emprego no país.
Camardelli reforçou o dinamismo com que tem trabalhado a ApexBrasil, em parceria com o MAPA, o Itamaraty e o setor privado na interlocução com os outros países para alavancar as exportações no setor de carnes. "Esse foi o resultado de uma exportação recorde. O Brasil exportou 13 bilhões de dólares no ano passado. E a ABIEC representa 98% das exportações", lembrou.
Grãos, fibras e frutas
O painel sobre grãos, fibras e frutas foi mediado pela Coordenadora do Agronegócio da ApexBrasil, Paula Soares. Participaram do debate o Diretor Executivo da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (ABRAFRUTAS) Eduardo Brandão, o Diretor Executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (ABRAPA) Márcio Portocarrero, a Diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sueme Mori Andrade, e a Diretora Executiva da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (ABIARROZ), Andressa Silva.
"Pela primeira vez esse ano, somos o maior exportador de milho do mundo", lembrou Sueme. Em 2023, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos na exportação do grão - o que não acontecia desde 2013.
Brandão, por sua vez, falou sobre o crescimento de 7% das exportações de frutas no acumulado de janeiro a setembro. “Apesar de sermos um setor pequeno em relação aos demais, é um setor que gera um grande impacto econômico social, devido a geração de empregos, sobretudo, nos lugares que mais precisam, que são no semiárido brasileiro”.
Márcio Portocarrero anunciou que o Brasil ultrapassou os Estados Unidos também na produção de algodão, ocupando, agora, o terceiro lugar no ranking mundial. Ele acredita que o país tem tudo para se tornar o maior exportador do globo, uma vez que possui tecnologia, sustentabilidade e apoio para isso. "Estamos prontos para superar desafios".
Valor agregado
Para falar dos Desafios da Indústria Alimentícia de Alto Valor Agregado, subiram ao palco o Presidente Executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (ABIMAPI), Claudio Zanão, o Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS), Fábio Sato, e a Diretora de Marketing da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), Silvana Gomes. A conversa foi mediada pela gestora de Projetos de Agronegócios da ApexBrasil, Deborah Rossini.
Representando a ABIMAPI, Claudio Zanão afirmou que o setor superou todas as metas firmadas para 2023, com aumento das exportações, das empresas atendidas e da diversificação de destinos. "Estamos atendendo 93 empresas e exportando para 90 destinos diferentes", anunciou. Ele destacou ainda a importância de feiras apoiadas pela ApexBrasil voltadas para o setor, como Anuga e Sial.
Fábio Sato, da ABICS, também comentou os números do setor e salientou a criação, junto à ApexBrasil, de um protocolo de análise sensorial de café solúvel, inédito no mundo. "Com apoio da ApexBrasil, nós fizemos o lançamento mundial no ano passado, fizemos a apresentação na Suíça e agora, em março de 2024, vamos levar para os Estados Unidos. Com essa tecnologia, queremos educar o consumidor americano que café solúvel não é tudo a mesma coisa", revelou.
A imagem do agro
Representantes dos setores de cafés especiais, mel, vinhos e suco de uva, suco de laranja e cachaça integraram o painel “A imagem do agro brasileiro no mercado internacional”. Eles apresentaram os seus casos de sucesso e refletiram sobre os desafios que o Brasil ainda enfrenta lá fora. O debate foi mediado pela gestora do projeto Afri-Food Facts da ApexBrasil, Lilian Leão.
Para o Diretor Executivo da Brazil Specialty Coffee Association (BSCA), Vinícius Estrela, um dos grandes segredos para disseminação da imagem positiva de um produto é a constância. “Por muitos anos a gente veio contanto a história de que somos o maior produtor e exportador. Somos confiáveis, temos produto para entregar e, assim, conseguimos ampliar o consumo de café, que é a segunda bebida mais consumida no mundo, atrás da água”, comemorou. Ele explicou que o volume de exportação de café chegou a um volume tão grande que a diferenciação se tornou mandatória. Por isso, surgiu a ideia de reposicionar o café brasileiro, apresentando uma nova geração de cafés especiais, na tentativa de aumentar o valor pago pelo produto.
Outro setor em que a consistência na comunicação tem sido chave é o de suco de laranja, produto pelo qual o Brasil é amplamente conhecido, dominando cerca de 75% do comércio global. O Diretor Executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Ibiapaba Netto, destacou que apesar da dificuldade na mensuração do impacto da percepção nas vendas, há quatro pontos fundamentais para garantir o sucesso na promoção da imagem: a frequência da comunicação, que é muito mais importante do que a intensidade; a consistência da mensagem disseminada; a unidade do discurso; e o investimento.
Também participaram do debate a presidente da Associação Brasileira de Exportadores de Mel (ABEMEL), Andresa Berretta, o presidente do Consevitis-RS, Luciano Rebellato, e o Diretor de Mercados e Estudos Econômicos do Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC), Carlos Lima. Apesar de representarem setores menores, eles relataram experiências crescentemente bem-sucedidas na promoção dos produtos atrelados diretamente à ideia de “brasilidade”.
Pecuária e pets
No painel com o Presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Gabriel Garcia Cid, e o Presidente do Instituto Pet Brasil (IPB), Caio Villela, o foco foi a tecnologia embutida na pecuária brasileira, que abrange o segmento de genética zebuína, e o potencial de crescimento do mercado de produtos para animais de estimação. A mediadora foi a Coordenadora do Agronegócio, Paula Caminha Soares.
O representante da ABCZ, Gabriel Cid, comemorou os resultados positivos de 2023, que incluiu a assinatura do novo convênio com a ApexBrasil para execução do projeto Brazilian Cattle. “Foi um ano muito forte de crescimento, com aumento de 44% no número de empresas. Também tivemos recordes em visitações: tivemos delegações de mais de 30 países participando das nossas feiras, com quase 600 criadores e investidores estrangeiros procurando a nossa genética”, destacou.
O mercado de produtos para pets, representado por Caio Villela, também apresentou números positivos no último ano. Desde a pandemia, o consumo ligado a animais de estimação tem crescido de forma acelerada, com destaque para as oportunidades via e-commerce. “Há uma tendência de humanização dos pets, uma incorporação do pet na família”, explica Villela. A projeção de crescimento nas exportações do setor é de 10% em relação a 2022, com vendas concentradas para a América Latina.
Energias renováveis
O último painel do dia teve como foco um tema diretamente relacionado com sustentabilidade: a transição energética. O Presidente da União Nacional do Etanol de Milho (UNEM), Guilherme Nolasco, e a Diretora Executiva da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (ÚNICA), Patrícia Audi, reuniram-se para debater a expansão do mercado de etanol no mundo. A conversa foi moderada pela Gestora de Projetos de Agronegócios da ApexBrasil, Luciana Furtado.
O farelo de milho, co-produto do etanol, é um insumo introduzido há pouco tempo na indústria brasileira. Os bons resultados dessa cadeia e expectativa de crescimento, contudo, fizeram com que os produtores logo se organizassem para trabalhar a exportação. Guilherme Nolasco, representante da UNEM, conta que a ideia para começar a estruturar os planos de internacionalização do setor surgiu em 2019, e agora, em 2023, foi inaugurado o primeiro projeto setorial em parceria com a ApexBrasil. Hoje, as vendas internacionais já são uma realidade: só esse, já foram US$ 150 milhões vendidos.
O projeto setorial para exportação de açúcar e etanol, que é uma parceria entre a ÚNICA e a ApexBrasil, por outro lado, já é tradicional. O Brasil é liderança consolidada global no mercado de açúcar: das 30 milhões de toneladas produzidas, 21 milhões são exportadas. No caso do etanol, contudo, as exportações ainda correspondem a apenas 10%. Mas a tendência é de crescimento. “Temos uma oportunidade enorme quando falamos de futuro sustentável e transição energética. Até 2030, para que o mundo cumpra com seus compromissos de descarbonização, vai ter que consumir três vezes mais etanol”, destacou Patrícia Audi.
Com quatro vezes menos emissões do que os combustíveis fósseis, o etanol é uma solução sobretudo para os países em desenvolvimento, que não dispõem do capital necessário para eletrificação das frotas de transporte. Por isso, uma das principais estratégias do setor no Brasil é estimular a cooperação sul-sul, para que mais países do Sul global se engajem na produção de etanol, disseminando o uso do biocombustível.