O comércio exterior passa por um momento de ajustes. O cenário é marcado por instabilidades geopolíticas, novas barreiras tarifárias, aumento da concorrência internacional no mercado interno e mudanças no perfil do consumidor, que afetam também o setor de móveis. Esse ambiente impõe desafios, mas também abre novas oportunidades que dependem não só de políticas públicas voltadas à defesa comercial e à promoção internacional da indústria brasileira, mas também exige inteligência de mercado e planejamento estratégico para fortalecer a competitividade das empresas nacionais.
É nesse contexto que a ABIMÓVEL (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário), em parceria com a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), lança a nova edição do relatório “Do Brasil para o Mundo”, elaborado pelo IEMI com exclusividade para empresas participantes do Projeto Setorial Brazilian Furniture.
O estudo, publicado anualmente, apresenta indicadores, estatísticas, análises e projeções entre 2020 e 2024, funcionando como instrumento estratégico para o planejamento internacional da cadeia de móveis brasileira, desde fornecedores de insumos, matérias-primas, máquinas e demais suprimentos até fabricantes de móveis e colchões acabados.
Panorama do comércio exterior de móveis e colchões
Segundo o estudo, o Brasil é hoje o sétimo maior produtor de móveis e colchões do mundo, com 439,9 milhões de peças fabricadas em 2024. Apesar dessa escala, responde por apenas 0,5% das exportações globais do segmento, o que demonstra o grande potencial ainda a ser explorado. O país conta com matérias primas únicas, design original, práticas de gestão sustentável e adesão crescente a normas técnicas internacionais, fatores que não só garantem qualidade e segurança como reforçam a capacidade da indústria nacional de conquistar novos mercados.
Em 2024, as exportações brasileiras de móveis e colchões acabados somaram US$ 763,1 milhões — alta de 3,8% frente ao ano anterior e de 21,5% ao longo do período de cinco anos, entre 2020 e 2024 —; contra US$ 298,3 milhões em importações, assegurando superávit para a balança comercial do setor. O potencial dessas exportações, contudo, pode chegar a US$ 930 milhões ao ano, segundo metodologia do ITC (International trade Center) aplicada pelo IEMI, se diversificar destinos e ampliar o valor agregado.
Do total exportado, 83,4% corresponderam a móveis prontos, com destaque para
móveis de madeira para dormitório (39,2%) e outros móveis de madeira (28,1%).
Os Estados Unidos permaneceram como principal destino, absorvendo 29,6% das vendas externas. Na sequência, destacaram-se o Uruguai (10,9%), o Chile (6,9%), o Reino Unido (5,9%) e o Peru (5,3%). Neste ano, contudo, os EUA impuseram tarifas adicionais de 50% sobre o mobiliário de madeira brasileiro, medida que acende um sinal vermelho para as empresas exportadoras do setor.
Com foco nesse tema, o setor moveleiro esteve representando na comitiva brasileira em Washington, na primeira semana de setembro, em agenda oficial junto à CNI (Confederação Nacional da Indústria), representantes de Ministérios e outros membros do Governo Federal, para discutir alternativas junto às autoridades norte-americanas, reforçando a defesa dos interesses da indústria brasileira.
Internamente, os polos exportadores do Rio Grande do Sul (32,8%) e de Santa Catarina (32,6%) lideraram o comércio exterior em 2024, seguidos por Paraná (17,1%), São Paulo (13,6%) e Minas Gerais (1,9%), que juntos representam cerca de 98% das exportações nacionais de móveis e colchões.
No lado das importações, a China respondeu por 73,8% do valor total, o que reforça a concentração da origem dos móveis adquiridos pelo Brasil e a necessidade de medidas de defesa e estímulo à produção nacional.
Componentes, insumos, máquinas e demais fornecedores
Além dos móveis acabados, o relatório também dedica uma seção à cadeia de
componentes, insumos, máquinas e demais fornecedores, que desempenham papel
estratégico para a competitividade do setor. Em 2024, as exportações dessa vertical totalizaram US$3,58 bilhões, representando um aumento de 3,5% em relação a 2023. Em comparação com 2020, observou-se crescimento de 59,6%.
Quando feita a análise por país de destino, os EUA foram os principais compradores dos produtos da pauta, representando 40,0% do total, a Argentina e o Chile complementam o pódio com participações de 11,1% e 5,7%, respectivamente.
Segmentando a análise para as unidades federativas, Paraná foi o principal estado exportador com uma participação de 29,8%, seguido por São Paulo com 29,1%. Dentre os cinco estados que mais exportam produtos desta pauta, apenas o estado do Pará registrou queda na comparação entre os anos de 2024 e 2020, ou seja, uma retração de 6,5%.
Desafios e oportunidades apontados pelo estudo
● Diversificação de mercados: de um lado forte concentração em destinos como
EUA; de outro, aumento da participação em mercados da América Latina, Europa e
Oriente Médio.
● Pressão competitiva: a liderança da China no comércio global desafia preços e
margens.
● Potencial de crescimento: o Brasil tem escala, capacidade e diferenciais
competitivos para alavancar às exportações e o posicionamento internacional no
setor.
‘Do Brasil para o Mundo’
O relatório organiza dados de produção, exportação e consumo entre 2020 e 2024, com análises sobre conjuntura, mercados estratégicos e tendências globais em segmentos como móveis de madeira (dormitório, cozinha, escritório e outros), móveis de metal, móveis de plástico, assentos (estofados, giratórios, transformáveis em camas, rattan e bambu) e colchões e suportes. A edição de 2025 também inclui recortes específicos sobre componentes, insumos e máquinas, contemplando toda a cadeia moveleira e acompanhando a expansão do Projeto Brazilian Furniture no ciclo 2025–2026.
“Olhar para os números dos últimos anos é mais do que um exercício de retrospectiva, trata-se de subsídio para compreender a posição da cadeia de móveis brasileira no comércio global e planejar o futuro com base em fatos”, afirma Irineu Munhoz, presidente da ABIMÓVEL. “Produzimos em escala mundial, mas nossa participação nas exportações ainda está aquém do potencial que temos. Isso mostra que há um caminho a ser percorrido e o relatório ‘Do Brasil para o Mundo’ oferece essa leitura: aponta tendências, riscos e oportunidades. Esse é também o papel da ABIMÓVEL, ou seja, articular dados, ações, diálogos e políticas públicas que ajudem a indústria a transformar capacidade produtiva em presença efetiva no mercado interno e externo.”
Como acessar o estudo
O relatório “Do Brasil para o Mundo 2025” está disponível exclusivamente para as indústrias associadas ao Projeto Brazilian Furniture. Informações sobre adesão e acesso podem ser obtidas diretamente no site do projeto - brazilianfurniture.org.br — ou pelos e-mails projetos@abimovel.com e executiva@abimovel.com.
Projeto Brazilian Furniture
O Projeto Setorial Brazilian Furniture é uma iniciativa da ABIMÓVEL, em parceria com a ApexBrasil, que tem como objetivo ampliar a participação da cadeia de móveis brasileira no mercado internacional por meio de ações estratégicas de fortalecimento da sustentabilidade, da competitividade, inovação e posicionamento do setor. Atualmente, cerca de 175 empresas integram o projeto.
No ciclo 2025-2026, o Brazilian Furniture passou a atuar em duas verticais complementares. A primeira é dedicada aos móveis prontos, reunindo fabricantes e designers que representam a originalidade, a qualidade e a identidade do mobiliário brasileiro. A segunda é voltada aos fornecedores da cadeia moveleira, incluindo empresas de componentes, máquinas, insumos e tecnologias, o que posiciona o Brasil como um parceiro completo de soluções para a indústria global de móveis, capaz de atender desde a matéria-prima até o produto final.
Com essa estrutura, o projeto amplia o alcance internacional do setor, diversifica mercados e reforça a competitividade da marca Brasil no cenário global. Empresas interessadas em participar podem acessar brazilianfurniture.org.br.
Sobre a ABIMÓVEL
A Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (ABIMÓVEL), atua há quase cinco décadas na defesa, desenvolvimento e fortalecimento da cadeia moveleira nacional. A instituição promove e conduz uma agenda positiva para o setor, beneficiando mais de 22,3 mil empresas, que em 2024 geraram 282,7 mil empregos diretos, numa cadeia produtiva que emprega cerca de 1,1 milhão de
trabalhadores indiretamente. No período, foram produzidas 439,9 milhões de peças de móveis e colchões acabados (+8,6% sobre o ano anterior), com faturamento de R$ 91,6 bilhões (+12,1%) e investimentos de R$ 1,37 bilhão (+14,5%).
Esses números refletem a força da indústria moveleira no Brasil – uma das maiores produtoras do setor no mundo –, resultando de uma atuação conjunta entre empresas e a entidade. Um trabalho integrado e estruturado que se traduz em programas voltados à sustentabilidade, ao design, normalização, internacionalização, inovação e posicionamento do setor no mercado, reforçando a
competitividade do mobiliário brasileiro e ampliando sua presença tanto no mercado interno quanto no global.
Sobre a ApexBrasil
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) atua para promover produtos e serviços brasileiros no exterior e atrair investimentos estrangeiros para setores estratégicos da economia brasileira. Para alcançar os objetivos, a ApexBrasil realiza ações diversificadas de promoção comercial que visam promover as exportações e valorizar os produtos e serviços brasileiros no exterior, como missões prospectivas e comerciais, rodadas de negócios, apoio
à participação de empresas brasileiras em grandes feiras internacionais, visitas de compradores estrangeiros e formadores de opinião para conhecer a estrutura produtiva brasileira, entre outras plataformas de negócios que também têm por objetivo fortalecer a marca Brasil.
A Agência também atua de forma coordenada com atores públicos e privados para atração de investimentos estrangeiros diretos (IED) para o Brasil com foco em setores estratégicos para o desenvolvimento da competitividade das empresas brasileiras e do país.