Com mais de 350 empresas e instituições públicas, evento realizado no marco da visita do presidente Lula ao país reforçou a necessidade de cultivar os laços comerciais, políticos e diplomáticos com a Bolívia. Em keynote speech, presidentes da Petrobras e da YPFB falaram sobre a parceria na cadeia de petróleo e gás
A importância de ampliar, fortalecer e diversificar os negócios com a Bolívia marcou as falas de abertura do Fórum Empresarial Bolívia-Brasil, nesta terça-feira (9), em Santa Cruz de la Sierra. O evento foi organizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) em parceria com o Ministério das Relações Exteriores (MRE), no marco da visita do presidente Luís Inácio Lula da Silva ao país vizinho. Uma delegação de mais de 350 empresários e representantes de instituições públicas de ambos os países estiveram no Fórum, que buscou discutir temas relacionados ao comércio bilateral e oferecer espaços para conexões e negócios entre produtores brasileiros e bolivianos.
O presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, enfatizou que o encontro não poderia ocorrer em melhor momento. “Há alguns dias, a Bolívia passou por um problema que ela mesma superou e, agora, acaba de aderir ao Mercosul. É um país irmão nosso, tem semelhanças com o centro-oeste brasileiro”, lembrou. Na segunda-feira (8), durante a 64ª Cúpula do Mercosul em Assunção, no Paraguai, o país foi incorporado como membro pleno do bloco.
Viana também destacou que os maiores grupos econômicos brasileiros estavam representados no Fórum. “Esse encontro inaugura a retomada do fluxo de comércio e investimentos com a Bolívia. Temos grandes oportunidades envolvendo a geração de energia; o gás; os minerais críticos, especialmente o lítio; e o agronegócio. Ambos os países têm as maiores produções de castanha-do-brasil, por exemplo. É uma cadeia produtiva enorme que envolve muita gente e gera muita renda”, pontuou o presidente da ApexBrasil, lembrando ainda que persistem dificuldades para que o produto amplie sua presença no mercado externo.
O vice-ministro de Comércio Exterior e Integração da Bolívia, Huascar Ajata Guerrero, lembrou a longevidade das relações bilaterais e chamou a atenção para desafios comuns entre os países, que enfrentam a mudança climática e a dependência por combustíveis fósseis, por exemplo. Ao mesmo tempo, destacou, ambos estão em posição privilegiada para conduzir um processo de transição energética, dada a abundância de recursos. “Nessa aproximação da Bolívia com o Mercosul, vamos fortalecer e diversificar nossa relação com os países vizinhos e esse evento é uma oportunidade para isso”, complementou.
O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Elias, destacou que o governo federal quer não apenas integrar as cadeias produtivas entre os dois países, como também promover a integração econômica de toda a América do Sul. Elias lembrou que a integração dessas cadeias é, inclusive, uma das metas da Nova Indústria Brasil, idealizado pelo MDIC para estimular o desenvolvimento do setor industrial brasileiro. “O Brasil quer ser um parceiro cada vez mais ativo da Bolívia”, reforçou.
O cônsul-geral do Brasil em Santa Cruz de la Sierra, Francisco Carlos Soares Luz, lembrou que o país é um importante mercado para os produtos industrializados brasileiros de alto valor agregado. “É o tipo de mercado que o exportador brasileiro precisa conhecer e explorar”, pontuou Luz, chamando a atenção para as oportunidades geradas pela recente incorporação da Bolívia ao Mercosul. Na mesma linha, o presidente da Federação de Empresários Privados de Santa Cruz, Oscar Mario Justiniano, destacou: “a proximidade de mercados estratégicos como Mato Grosso, Rondônia e Acre são oportunidades para o mercado de fertilizantes e para o desenvolvimento da agropecuária de Bolívia, além do intercâmbio de tecnologias”.
Petrobras na Bolívia
A primeira keynote speech ficou por conta da presidenta da Petrobras, Magda Chambriard, que anunciou a prospecção de poços de gás natural na região de San Telmo Norte, no departamento de Tarija. As obras estão previstas para 2025 e dependem apenas da obtenção de licenciamento ambiental. “Se tivermos a possibilidade de perfurar esse poço, vamos entregar a produção de gás que o Brasil e a Bolívia merecem”, destacou. Segundo a executiva, 1/4 da produção de gás boliviano hoje é responsabilidade da Petrobras, bem como 33% das exportações do país.
Chambriard lembrou que os países são parceiros há quase 30 anos na indústria do gás, tendo o gasoduto Bolívia Brasil, o Gasbol, como um símbolo dessa integração. Ela reforçou que é necessário recuperar os patamares da produção do combustível, tendo em vista que o Brasil já operou 60% da produção de gás na Bolívia e contribuiu com cerca de US$ 10 bilhões em investimentos para o país vizinho entre 2002 e 2023. “A Petrobras acredita no potencial do mercado boliviano e nas oportunidades exploratórias que estão disponibilizadas para merecer investimentos”, completou.
A presidenta da Petrobras frisou ainda que o Brasil precisa ser capaz de fornecer gás para as indústrias petroquímica e de fertilizantes a preços acessíveis. Petróleo e gás, continuou ela, devem ser drivers preponderantes de valor, contribuindo para uma transição energética justa e inclusiva. “Enxergamos nesse trajeto a Bolívia como fornecedora estratégica”, finalizou Chambriard, que destacou também a importância da possível parceria em San Telmo para o futuro das relações entre os dois países.
Também à frente de uma keynote speech, o presidente da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), Armin Ludwig Dorgathen, falou sobre os mais de 50 projetos exploratórios que a estatal de petróleo e derivados tem desenvolvido entre 2021 e 2024. O CEO discorreu ainda sobre o contrato da empresa com a Petrobras, que permitiu, segundo ele, o desenvolvimento do setor de gás na Bolívia e no Brasil e o abastecimento do mercado argentino. “A YFBP e a Petrobras estão trabalhando de forma árdua desde 2020. Temos um contrato vigente até 2027, que garante o fornecimento de gás natural ao Brasil”, destacou Dorgathen.
Ainda sobre a integração energética e gasífera entre os países, o presidente da YPFB comentou sobre as perspectivas a partir de 2027, quando haverá, segundo ele, a estrutura necessária para cobrir a demanda de gás do norte argentino. A ideia é destinar o excedente dessa produção ao mercado brasileiro: “nossa infraestrutura permite integrar essa oferta à demanda crescente que temos no Brasil”, pontuou. Segundo ele, 85% do gás produzido na Bolívia é exportado e, além do Brasil, outros países vizinhos como Peru e Paraguai têm demandado o combustível.
Para mais informações sobre o comércio bilateral entre os dois países, acesse o perfil de Comércio e Investimentos Bolívia 2024.