A demanda global de gergelim se encontra em forte ritmo de expansão. Entre 2016 e 2020, as importações do produto aumentaram 18% em termos de volume. Houve também um aumento de cerca de 19% no preço por tonelada no mesmo período. Esses fatores resultaram em um incremento na ordem de 40% (ou, em média, de 8,8% ao ano) no valor das importações globais de gergelim no período. Em 2021, essas importações totalizaram US$ 3,6 bilhões (...)

Oportunidades para exportação de gergelim na Europa
Oportunidades para exportação de gergelim na Europa
A demanda global de gergelim se encontra em forte ritmo de expansão. Entre 2016 e 2020, as importações do produto aumentaram 18% em termos de volume. Houve também um aumento de cerca de 19% no preço por tonelada no mesmo período. Esses fatores resultaram em um incremento na ordem de 40% (ou, em média, de 8,8% ao ano) no valor das importações globais de gergelim no período. Em 2021, essas importações totalizaram US$ 3,6 bilhões.
A tendência identificada de elevação no consumo de gergelim se explica tanto pelo lado do crescimento populacional e de renda per capita de mercados tradicionais, como Ásia e Oriente Médio, que utilizam intensamente o produto como ingrediente em receitas típicas, como pelo crescente apelo de saudabilidade e valor nutricional do produto em mercados de alto valor aquisitivo, como a Europa.
Atualmente, entre os maiores produtores de gergelim, encontram-se países cujo consumo supera a produção nacional, como Índia e China, ou que enfrentam desafios de expansão da produtividade. Entre os 10 maiores exportadores mundiais, 5 deles (Mianmar, Sudão, Chade e Mali, além de Índia), apresentam índices de produtividade abaixo da média mundial.
Depreende-se desse contexto que o Brasil, cuja produtividade agrícola é reconhecida mundialmente, pode despontar como fornecedor global do produto. A produção de gergelim no país vem apresentando forte crescimento nos últimos anos, sobretudo por tratar-se de uma cultura alternativa ao milho na segunda entressafra da soja. Como o gergelim precisa de menos chuvas, a semeadura pode ser feita após o fim da janela ideal de semeadura do milho, especialmente no centro-oeste, maior região produtora do país[1].
Segundo a Embrapa[2], o cultivo de gergelim no Brasil passou de 53 mil hectares na safra 2018/2019 para 175 mil hectares na safra 2019/2020, um salto de 230% em apenas um ano. Quase todo gergelim produzido no país é destinado ao mercado internacional, de modo que, em 2020, o Brasil registrou exportações de US$ 70,3 milhões (em 2016 não chegava a US$ 1,5 milhão), figurando como o 10º maior exportador mundial do produto (era o 51º em 2016), com 2,2% do market share global. Globalmente, o país foi o que mais aumentou a produção de gergelim entre 2016 e 2019, em termos percentuais, tendo a colheita passado de 18 mil toneladas para 128 mil.
Além do aumento da quantidade, os produtores, em parceria com a Embrapa, vêm trabalhando para melhorar o gergelim produzido no Brasil. Na busca pela elevação do padrão de qualidade, para que se alcancem mercados internacionais com maior valor agregado, a Embrapa vem desenvolvendo o cultivar “Anahí”, que apresenta maior produtividade e facilita a colheita mecanizada. De acordo com relatos de produtores, essa variante, pouco exigente em água, pode render 1.600kg por hectare, muito acima da média de 700kg/ha da região[3].
O aumento da produtividade, aliado ao incremento nos preços internacionais do gergelim, tem tornado a produção dessa “colheita especial” [4] crescentemente rentável. Em 2016, cada hectare de gergelim produzido no Brasil para exportação rendeu, em média US$ 609,3, enquanto o hectare de milho rendeu US$ 967,2. Já em 2019, o rendimento do hectare de gergelim ultrapassou o do milho, em um patamar de US$ 1.024,1 frente aos US$ 997,7 do milho. Entre 2016 e 2020, o preço médio do quilo do gergelim aumentou 18,6%, enquanto o preço do milho se manteve praticamente o mesmo[5].
As tendências para o mercado do gergelim são positivas. Além do seu valor nutritivo, explorado pela indústria de produtos alimentícios, tem-se registrado, nos últimos anos, um grande aumento do uso do gergelim na fabricação de cosméticos e de fármacos. Ademais, a baixa produtividade de grandes produtores (como é o caso da Índia, cuja produção é pouco mecanizada) e as flutuações climáticas (especialmente a seca) afetam severamente sua produção. Esses fatores contribuem para uma persistente escassez de suprimentos de sementes de gergelim para os mercados de exportação.
Oportunidades e desafios
Embora os mercados da Ásia Pacífico e Oriente Médio sejam, tradicionalmente, os maiores consumidores de gergelim, a Europa vem emergindo como mercado relevante para o produto, haja vista a crescente preocupação com saúde e mudança no padrão de alimentação dos consumidores europeus. As sementes de gergelim são uma fonte rica de ácidos graxos, ômega 3, gorduras saudáveis e elementos como ferro, magnésio, cálcio e fibras, atraindo a atenção de uma população cada vez mais preocupada com hábitos saudáveis.
O mercado europeu está aberto para produtos brasileiros, de modo que não há barreiras tarifárias, sanitárias ou fitossanitárias. Contudo, algumas tendências devem ser observadas, caso o produtor queira adotar estratégias para diferenciar o seu produto e explorar nichos específicos de mercado, visando alcançar um público disposto a pagar mais por maior qualidade. Há crescente foco em políticas de sustentabilidade na aquisição de sementes de gergelim e no atendimento a critérios de comércio justo. A capacidade de entregar rastreabilidade e de atestar o produto como não geneticamente modificado (non-GMO) encaixa-se nesse contexto.
Além disso, garantias relacionadas à segurança dos alimentos é uma exigência do mercado europeu. É comum que importadores solicitem garantias além das exigidas na legislação europeia, como na forma de certificações, por exemplo. Sistemas de gestão de segurança de alimentos baseados no HACCP[6] e certificações reconhecidas pela Global Food Safety Initiative (GFSI) são amplamente aceitos em toda a Europa. Para os processadores de gergelim, um sistema de gestão de segurança alimentar reconhecido é uma necessidade para se tornar um fornecedor para os compradores europeus. Para obter mais informações sobre tendências de mercado e acesso a mercado na Europa para gergelim, acesse: https://www.cbi.eu/market-information/grains-pulses-oilseeds/sesame-seeds
Análise de comércio europeu e países selecionados
Segundo o TradeMap, em 2020, a Europa importou US$ 390,7 milhões em gergelim, o que representa 10,9 % do total importado no mundo. Em volume, foram 188,2 mil toneladas, resultando em um preço por quilo de US$ 2,08, mais de 40% acima do preço médio mundial que ficou em US$ 1,45/kg.
Quando comparado com 2016, o valor das importações de gergelim do continente europeu foi 44% maior em 2020, o que representa um crescimento médio de 9% ao ano. Em volume, registraram-se importações de 118,5 toneladas a mais do que em 2016, comercializadas a um preço médio por quilo quase 35% mais alto.
Os países do continente que mais importaram gergelim em 2020 foram: Alemanha (US$ 79,5 milhões), Grécia (US$ 51,1 milhões) e Países Baixos (US$ 49,8 milhões). Os principais fornecedores foram Índia (US$ 162,3 milhões ou 41,5% do market share), Nigéria (US$ 27,6 milhões ou 7,1% do market share) e Turquia (US$ 18,3 milhões ou 4,7% do market share).
No que diz respeito às transações brasileiras para a Europa, houve forte crescimento nos últimos anos. Em 2020, segundo dados do TradeMap, o Brasil exportou US$ 2,6 milhões em gergelim para a Europa, figurando como o 20º maior fornecedor do continente; em 2016, foram menos de US$ 350 mil exportados, o que colocava o Brasil na 35ª posição.
Entre 2016 e 2019, o preço médio pago pelos importadores europeus aos exportadores brasileiros quase dobrou. O rendimento de um hectare de gergelim produzido no Brasil e exportado para a Europa passou de US$ 547,7 (frente US$ 985,5 do hectare de milho) para US$ 1.060,7. Ou seja, a rentabilidade do gergelim superou a do milho (dados de produtividade registrados pela FAO em 2019).
Itália
A Itália, apesar de não constar entre os maiores importadores mundiais de gergelim em 2020 (foi o 26º na lista de importadores, com 0,5% do market share), foi o 10º maior destino das exportações brasileiras do produto. Em 2021, o país destacou-se como um mercado em expansão para o gergelim originário do Brasil.No acumulado de janeiro a outubro de 2021, a Itália figurou como o 3º maior destino brasileiro de gergelim (US$ 4,8 milhões exportados), segundo o ComexStat. Esse valor representa mais do que o dobro registrado em 2020.
Entre 2016 e 2020, as importações italianas cresceram 34% em volume, 22% em preço, levando a um incremento de 63% no valor das importações (ou uma média de 13% ao ano), que chegou a US$ 18,4 milhões em 2020. O principal fornecedor de gergelim da Itália foi a Índia, que deteve, em 2020, 44,8% de participação no mercado. Isso representa uma queda em relação a 2016, quando o país detinha 49,7% de market share. Segundo dados do TradeMap, o Brasil passou de 4ª maior fornecedor de gergelim para Itália, em 2020, com 6,5% de participação no mercado, para a 1ª colocação, em 2021, aumentando seu market share para 17,5%).
Em 2019, o rendimento do hectare de gergelim exportado para a Itália (calculado pelo preço médio de importação italiano) foi de US$ 1.602, receita 50% acima do hectare de milho, que rendeu, em média, US$ 1.069.
Alemanha
A Alemanha, o maior importador europeu de gergelim, em 2020, importou US$ 79,5 milhões (38,2 mil toneladas), sendo o 10º maior destino de exportação do produto no mundo (o que representa 2,2 % do total importado). Entre 2016 e 2020, as importações alemãs cresceram 21% em volume, 28% em preço, levando a um incremento de 55% no valor das importações (ou 11,6% ao ano).
O principal fornecedor do país é a Índia, que deteve, em 2020, 25,7% de participação no mercado. Apesar da margem de mercado ainda ampla, as exportações indianas não têm acompanhado o ritmo de crescimento das importações alemãs, de modo que perderam espaço em relação à posição que ocupava em 2016, de 37,2% de market share. Por outro lado, exportadores como Uganda, China e Egito expandiram consideravelmente suas fatias de mercado.
Em 2020, o Brasil exportou US$ 341 mil para a Alemanha. Foi o primeiro ano em que o país registrou exportações de gergelim para o mercado alemão, posicionando-se como 19º maior fornecedor, detendo 0,4% do market share. Em 2019, o rendimento do hectare de gergelim exportado para a Alemanha (calculado pelo preço médio de importação alemão) foi de US$ 1.746,6, 56% acima do rendimento do milho, de US$ 1.116. A Alemanha é um dos mercados em que se registra um dos maiores valores/kg de importação do gergelim. Em 2019, o preço médio vigente na Alemanha foi de US$ 2,18/kg, mais de 50% acima do preço-médio mundial de US$1,45/kg.
Grécia
A Grécia, segundo maior importador europeu de gergelim, em 2020, importou US$ 51 milhões (31,4 mil toneladas), sendo o 15º maior destino de exportação mundial desse produto (o que representa 1,4% do total importado). O gergelim é um ingrediente básico na preparação de pretos tradicionais gregos, como Tahini e Halva. Entre 2016 e 2020, as importações gregas expandiram-se em 22,3% em valor (ou 5,2% ao ano).
O principal fornecedor do país é a Índia, que deteve, em 2020, 31,6% de participação no mercado. Em 2020, o Brasil exportou US$ 54 mil para a Grécia. Foi o primeiro ano em que o país registrou exportações de gergelim para o mercado grego, posicionando-se como 10º maior fornecedor, detendo apenas 0,1% do market share. Em 2019, o rendimento do hectare de gergelim exportado para a Grécia (calculado pelo preço médio de importação grego) foi de US$ 1.300, 8% acima do rendimento do milho, de US$ 1.116.
Conclusão
Apesar de configurar um mercado consolidado e altamente competitivo, a Europa concentra consumidores de nicho, cada vez mais preocupados com o consumo saudável e sustentável. Nesse sentido, as sementes de gergelim vêm ganhando popularidade no continente, onde praticamente não há produção do produto. Como resultado disso, percebe-se que o crescimento das importações tem sido robusto nos últimos anos, liderado pela Alemanha e Grécia.
Nesse contexto, o Brasil, líder mundial em produção agrícola, pode se beneficiar de suas vantagens comparativas, em termos de tecnologia e pesquisa, para despontar como fornecedor de gergelim de alta qualidade. Assim, poderá atender mercados exigentes e de alto poder aquisitivo, como o mercado europeu, incrementando a rentabilidade do agronegócio.
Luiza Bulhões Olmedo
Zimmer de Souza Bom Gomes
[1] https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/64027841/cultivo-do-gergelim-no-brasil-cresce-230-em-um-ano
[2] Idem.
[3] Idem.
[4] https://www.ibrafe.org/artigo/oleo-de-gergelim-todas-as-propriedades-e-10-usos-para-a-beleza/
[5] Cálculos feitos a partir de dados da FAO e ComexStat.
[6] Hazard analysis and critical control points.
FONTES
Entrevistas com empresas. Centre for the Promotion of Imports from developing countries (CBI). Entering the European market for sesame seeds. Disponível em: https://www.cbi.eu/market-information/grains-pulses-oilseeds/sesame-seeds
Instituto Brasileiro de Feijões e Pulses (IBRAFE). ÓLEO DE GERGELIM: TODAS AS PROPRIEDADES E 10 USOS PARA A BELEZA. Disponível em: https://www.ibrafe.org/artigo/oleo-de-gergelim-todas-as-propriedades-e-10-usos-para-a-beleza/
·Apex-Brasil. Turquia – Pulses e Gergelim, 2021. Disponível em: http://www.apexbrasil.com.br/inteligenciamercado/downloadestudo?arquivo=da9b297e-9790-4345-9ca5-8a5ff018b186.pd
FAOSTAT. Disponível em: https://www.fao.org/faostat/en/#data/QCL
ComexStat. Disponível em: http://comexstat.mdic.gov.br/
TradeMap. Disponível em: https://www.trademap.org/
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