Mulheres e Negócios Internacionais: empresárias atendidas pela ApexBrasil ganham o mundo

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Atuantes no ramo de fixação para construção civil, tubulações metálicas e design de joias, elas compartilham suas experiências com o Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX) 

Quem nunca ouviu por aí que lugar de mulher é onde ela quiser? E isso vale inclusive para os negócios internacionais! É por acreditar nisso que a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) tem se esforçado para que essa presença seja cada vez mais uma realidade. Infelizmente, das cerca de quatro mil empresas exportadoras atendidas pela Agência, apenas 343 – menos de 10% - têm mulheres em posições de liderança.  

Com o objetivo de equilibrar essa proporção, em março a Agência apresentou publicamente seu compromisso para alcançar a equidade de gênero, voltado tanto à governança da casa quanto aos programas finalísticos, que atendem as empresas. E para concretizar essas propostas, a Casa está desenhando o projeto “Mulheres e Negócios Internacionais”, que será lançado no início de junho. 

Apesar da escassez de mulheres nesse ambiente, exemplos inspiradores não faltam. Nosso Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX), que auxilia negócios brasileiros a iniciarem sua jornada exportadora, tem colaborado com trajetórias de lideranças femininas em vários cantos do Brasil. “Com o programa Mulheres e Negócios Internacionais, o objetivo é que tenhamos mais empresas lideradas por mulheres participando de todas essas iniciativas e, para isso, teremos uma atenção especial e ações específicas de apoio a esse grupo”, conta a gerente de Competitividade da ApexBrasil, Clarissa Furtado. 

Entre essas trajetórias de destaque está a da paulista Ive Silvestre, Chief Financial Officer (CFO) da Sforplast, empresa que atua no segmento de fixação, produzindo itens como pregos, parafusos e buchas. Além da gestão financeira, Ive é responsável pelas atividades de comércio exterior da empresa. Em 2016, a partir do desejo de que a Sfor crescesse e expandisse os negócios, ela conheceu o PEIEX. 

Dos vários encontros realizados com os técnicos do Núcleo de São Caetano do Sul, no ABC Paulista, uma orientação marcou a engenheira: “ele falou assim para mim: olha, para ter uma empresa saudável, você tem que ter no mínimo 20% do seu faturamento baseado em dólar, para não sofrer com as oscilações do mercado local nem com nada que acontecer aqui no Brasil”. Esse foi o pontapé para a estreia da Sforplast no comércio exterior, por meio de feiras nos EUA e na América Latina. Recentemente, a empresa também abriu uma conta na Amazon.com, após participar do programa de aceleração da ApexBrasil em parceria com a gigante do e-commerce americano.  

O desejo por levar o negócio além-fronteiras também foi o que motivou a goiana Larissa Moraes a buscar o PEIEX. Com mais de 12 prêmios e menções honrosas internacionais, além de várias recomendações em editoriais de moda, a designer de joias foi procurada em 2020 por uma agência de relações públicas dos EUA: precisavam de uma peça sua in loco, e com certa urgência, para estampar uma foto de capa da Revista Cosmopolitan. 

O desespero de início de pandemia foi agravado por “coisas horrorosas” que ouviu de um despachante aduaneiro, que a alertou para um possível roubo de joias. A solução surgiu quando uma amiga sugeriu o PEIEX, com muitos elogios, como um caminho para dominar o processo de exportação. “O pessoal da Apex abraça e compra a sua ideia como se fosse deles também. A Apex me pegou pela mão, fizeram todo o planejamento. A gente foi desenvolvendo as saídas juntos”, lembra ela. No fim, todo o passo a passo dos embarques, incluindo os trâmites com a Receita Federal, foi feito com a ajuda da ApexBrasil.  

Já a maranhenese Kellen Kalli, Chief Executive Officer (CEO) da Memps (Montagem Eletrônica Manutenção e Prestação de Serviços), procurou a ApexBrasil visando a internacionalização. A empresária queria abrir operações em Portugal - um ambiente de negócios que já conhecia por ter cursado lá seu mestrado em gestão estratégica. A empresa tem a patente de uma fábrica móvel de tubos, a FAMTHE, a qual deseja aprimorar e apresentar para o mercado europeu com o apoio de um sócio luso da área de desenvolvimento tecnológico. 

“Foram muito ricas as trocas com o PEIEX. A gente absorveu muito conhecimento para nortear e direcionar as nossas tratativas, afora os caminhos [oferecidos]”, contou Kellen. Além de internacionalizar suas operações, a empresa quer exportar os serviços da FAMTHE para obras no Chile, Uruguai e outros países latino-americanos. “E agora já temos as ferramentas, sabemos onde buscar, como fazer... Porque eram coisas completamente desconhecidas para nós até então”, acrescentou. 

Para Clarissa Furtado, o PEIEX é um grande aliado no processo de iniciar ou expandir as exportações de forma segura e consistente, além de colocar a empresa frente a possíveis compradores em todo mundo, via ações de promoção comercial. “Nós acreditamos que as empresas brasileiras de todos os portes, setores e regiões do país têm condição de exportar seus produtos e serviços e, com isso, ganhar competitividade e gerar cada vez mais e melhores empregos”, destaca.   

Presenças e ausências

A paixão de Ive, Larissa e Kellen pelo trabalho não esconde as dificuldades que elas encontram no ambiente de negócios, inclusive na lida com o comércio exterior. A começar pela própria presença feminina. Kellen e Ive integram segmentos da indústria pesada, onde tradicionalmente as mulheres estão em menor número. De fato, um levantamento do LinkedIn para 22 países, em parceria com o Banco Mundial, mostra que alguns setores ainda têm baixa participação feminina em posições de liderança, como Energia (20%), Manufatura (19%) e Infraestrutura (16%).  

“Basicamente em 90%, 95% das reuniões que eu participo sou a única mulher no papel de decisão. Nossos principais clientes são da construção civil, então a gente lida muito com essa área, e é muito rara a presença feminina no processo decisório”, descreve Kellen. Ela e Ive apontam que nichos profissionais como administração, arquitetura e mesmo algumas engenharias já têm ganhado mais mulheres. Mas o operativo, o chamado “chão de fábrica”, ainda é predominantemente masculino. 

No seu papel de líder e gestora, Kellen relata queixas coletivas de funcionárias sobre a dificuldade de serem ouvidas em espaços de maioria masculina. “Não é o que a gente fala, mas é a gente falando. Que às vezes não faz o mesmo efeito de quando tem um homem na reunião e reporta”, ressalta. Segundo Kellen, desde que assumiu a liderança do grupo Memps, a empresa já conta com uma quantidade razoável de mulheres nas áreas técnica e administrativa. "E eu acho que isso foi meio natural... Talvez porque eu não tenha uma barreira [à entrada de mulheres], então eu nunca saí exigindo ‘escolhe um homem pra essa obra’ ou algo assim. Isso sempre foi livre”, comenta. Nesse ambiente predominantemente masculino, a empresa busca orientar suas profissionais sobre formas mais assertivas de se posicionar, de modo a evitar situações constrangedoras e desrespeitosas por parte de clientes, por exemplo. 

Um ambiente difícil para as mulheres também é sentido por Ive em feiras e outros eventos internacionais. Além da barreira da língua, essas profissionais estão mais suscetíveis a assédios e a outras situações constrangedoras, em sua avaliação. A questão do dress code, por exemplo, faz com que elas estejam sempre preocupadas em evitar comportamentos invasivos e desrespeitosos. Outra carga mental está ligada à própria possibilidade de estar presente. Conciliar a maternidade com a atividade profissional em mercados internacionais é, certamente, um dos maiores desafios: “eu vejo que, quando as empresas promovem esses eventos ou fazem essas coisas, não pensam muito, né? Você tem que acabar optando, ou vou ser uma mulher de negócios ou vou cuidar da minha família”. O esforço de Ive tem sido achar um meio-termo.

A Sforplast é uma empresa de origem familiar. Para estar nesses eventos, Ive ou busca alguém para cuidar dos filhos ou participa de forma remota, preparando materiais, pitches e outros insumos para que o companheiro represente a firma. Inclusive, sua chegada à Sfor foi uma aposta: engenheira com MBA e trajetória em multinacionais, em 2012 optou por se juntar à empresa de forma a ter mais flexibilidade para ficar com a filha, que demanda cuidados especiais. A decisão, à época desafiadora, rendeu frutos: a empresa cresceu e se prepara para ganhar o mercado externo através da Amazon, por meio de um programa em parceria com a ApexBrasil. “Eu estou na busca desse cliente, desse parceiro americano que possa fazer o B2B comigo. Para, então, ele fazer a distribuição no mercado americano. Esse é nosso foco”, conta. A Sfor planeja em breve uma exportação intercompany, ou seja, de si para si mesmo, usando centros de distribuição de terceiros. 

Vivendo o sonho com Viola Davis 

A tomada de decisões importantes marcou também a vida de Larissa, que ingressou no ramo de joias após o que chamou de “crise da meia idade”. A bacharel em Direito, com carreira em assessoria parlamentar, começou a driblar o cansaço com livros de colorir. Filha de artista plástica, cresceu rodeada de pinceis, tintas e livros de história da arte. De rabisco em rabisco, desenhou a coleção de bijuterias “dos seus sonhos”. E por encomenda de uma amiga, esses desenhos viraram peças em ouro, que passaram por feiras de design e chegaram a uma loja do setor. "A proprietária me disse: Larissa, sabia que você está desenhando alta joalheria?”, lembra. Desde então, sua trajetória tem sido “meteórica”, em suas próprias palavras.

Inspirada no pintor Van Gogh, sua coleção de 17 peças ganhou nada menos que 12 prêmios internacionais. Com o reconhecimento, agências de RP a procuraram para representar sua marca. As joias são hoje vendidas em lojas multimarcas da Inglaterra e dos Estados Unidos, ao lado de produtos da Tiffany, Versace e Rolex. Mas o êxito maior ainda estava por vir: um brinco seu foi parar nas orelhas da atriz Viola Davis. O personal stylist da celebridade, que conheceu a marca por meio da relações públicas de Larissa, foi quem pediu o empréstimo das joias, que haviam chegado a Nova York com o apoio do PEIEX. 

“Então, para o brinco chegar à orelha da Viola, olha o tanto de gente que teve que achá-lo legal”, comenta ela. Para a designer, um dos passos mais importantes dessa jornada foi a publicação de suas joias em editoriais de moda. Segundo ela, isso atesta a chancela do editor ao seu produto: como ele tem uma reputação a zelar, só publiciza marcas nas quais realmente acredita. Ela ainda trabalha apenas por encomenda, mas está buscando investidores para aumentar a produção e exportar com regularidade. Sua próxima coleção será inspirada no pintor francês Monet. “Eu acho o máximo tudo isso. Então estou vivendo um sonho”, celebra.  

Tema: Promoção Comercial — Qualificação Empresarial — Expansão Internacional
Mercado: América do Sul — América do Norte — América Central e Caribe — Europa
Setor de Exportação: Máquinas e Equipamentos — Moda
Setor de Investimento: Não se aplica
Setor de serviços: Não se aplica
Idioma de Publicação: Português

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