Mulheres e Negócios Internacionais: design é ferramenta de inovação e destaque em empresas com liderança feminina

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Trajetórias de sucesso de empresárias do ramo de café e calçados se cruzam no programa Design Export, da ApexBrasil

Começar um negócio próprio não é um processo fácil. A burocracia, a gestão financeira, a captação de clientes e a concorrência são apenas alguns dos obstáculos no percurso. De acordo com o IBGE, em 2020, apenas 40,7% das empresas nascidas em 2015 permaneciam em funcionamento, e quanto menor o porte da entidade, menor a taxa de sobrevivência. As mulheres, em especial, são minoria nas empresas ativas: elas eram 38,8%, contra 61,2% dos homens.

Abrir uma empresa sendo mulher é um desafio ainda maior. De acordo com dados do Sebrae, quando comparadas aos homens, as empreendedoras têm maior grau de escolaridade, mas ganham menos e possuem menos tempo disponível para focar nos negócios. Em 2022, havia 10,3 milhões (34,4%) de mulheres donas de negócios no país, o maior contingente de empreendedoras da história, mas ainda há muito espaço para crescimento. 

Em um cenário longe de ser o ideal, muitas mulheres já conseguem se destacar entre as estatísticas, inspirando e motivando outras empresárias. Nesta semana, serão apresentadas as histórias de três empreendedoras que conseguiram não só criar o próprio negócio, como também se estabelecer como um case de sucesso. Outro ponto em comum entre elas é o contato com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), através do programa Design Export (DEX). 

O DEX é um programa de apoio ao desenvolvimento de design e soluções inovadoras voltadas à exportação, idealizado pela ApexBrasil em parceria com o Centro Brasil Design. Empresas selecionadas recebem consultorias, capacitações e apoio técnico e financeiro para identificar a melhor oportunidade de inovação a partir do design, focando em conquistar o mercado internacional. As consultorias personalizadas são oferecidas por escritórios que dão orientações em todo o processo de desenvolvimento do novo produto ou embalagem, com foco na criatividade e inovação.

Desde o lançamento, em 2012, 386 empresas já foram atendidas e mais de 130 escritórios nacionais de design estão cadastrados como parceiros para auxiliar nos projetos.  “É normal que as empresas pensem em design somente como um elemento estético e um gasto ‘perdido’. No entanto, o design permite a diferenciação da empresa e de seus produtos e, com isso, o ganho de competitividade em mercados internacionais", frisa a gerente de Competitividade da ApexBrasil, Clarrisa Furtado. O DEX, portanto, é uma oportunidade de evidenciar ao mercado internacional a diversidade e a riqueza dos produtos brasileiros a partir do trabalho inovador em design. 

Entre as empresas que já passaram pelo programa e puderam desenvolver produtos com design inovador, estão o Café da Condessa, criada por Maria Carolina Freire, e a Insecta Shoes, fundada por Barbara Mattivy. E, do outro lado do processo, entre os escritórios de design que auxiliam a ApexBrasil, está a A10, fundada por Margot Doi Takeda.

Design assertivo

Diretamente de Jacutinga, Minas Gerais, Maria Carolina nasceu já inserida no meio cafeicultor: sua família é dona de uma fazenda de café há oito gerações. Entretanto, a sua trajetória profissional se iniciou em outra área e demorou alguns anos para que a aproximação definitiva com o setor acontecesse. Formada em arquitetura, Maria Carolina atuou por alguns anos na área e depois migrou para a produção de moda. Contudo, ainda se perguntava se, de fato, era aquilo que queria fazer em sua vida. 

Em meio à incerteza, Maria Carolina foi visitar a fazenda de sua família. Ao observar a produção de café, a mineira conta que começou a “agir como produtora de moda”, se questionando para quem era aquele produto, por que era produzido, como se comunicava com o cliente. Notou que as pessoas envolvidas no processo não se atentavam a essas questões, e que estavam mais focadas em assuntos como blends e qualidade do café. Então, pensou: “eu tenho que colocar um sentido nisso”, conta.

Determinada a reestruturar os processos, tomou uma decisão: “quer saber? O cliente desse café sou eu. Eu vou montar uma empresa me tendo como cliente”. Assim, surgiu a ideia inicial da Café da Condessa. “Aí eu montei a empresa com todo mundo rindo da minha cara, que eu não sabia nada. Saí da fazenda com uma saca de café, com todo mundo dando gargalhada, ainda mais que eu sou mulher: ‘tadinha’, ‘louquinha’”. Um tempo depois, a aposta no cliente se mostrou acertada: a marca fechou um contrato com o Carrefour e torrou a primeira tonelada de café.

Com um empreendimento já regularizado, estruturado e preparado desde o início, o Café Condessa foi crescendo e passou a ser exportado. A partir disso, a empresa foi selecionada para participar do DEX e, em parceria com a agência Casa Rex, criou embalagens com a ideia de “vestir” o produto como uma peça de roupa.  As criações foram premiadas dentro e fora do país. Sobre o papel do design, Maria Carolina compartilha: “é uma plataforma, uma ferramenta para expressar a sua cultura, quem você é, o que você quer, para o seu cliente. É assim que ele vai te entender. O design faz o seu produto ser mais assertivo”.  

O design como ativo sustentável 

Barbara Mattivy sempre teve o perfil de empreendedora. Em 2014, quando tocava um brechó online, foi abordada por uma amiga que vendia calçados, Pamela Magpali, com a proposta de transformar roupas danificadas em sapatos. “Então a gente fez uma pequena parceria entre as duas marcas, eram sapatos ainda bem artesanais, e quando aquela primeira amostra chegou para mim... sabe quando você enxerga 10 anos na frente? Então, fez muito sentido que a gente transformasse aquilo numa nova marca, porque era muito mais inovador, muito mais sustentável”, compartilha Barbara. Assim, nasceu a Insecta Shoes, oferecendo sapatos estampados ecológicos e sustentáveis. 

Sempre prezando pela sustentabilidade, Barbara desejava um projeto de inovação em embalagens que fosse possível aumentar a vida útil das caixas. A oportunidade surgiu com o DEX. Com a ajuda do escritório de design Valkiria Inteligência Criativa, foram criadas embalagens inovadoras. “Hoje a caixa vem com várias instruções. Se você não quiser mais usar ela como caixa, consegue transformar ela num vasinho de planta ou num porta-livros. E tem a caixa infantil também, que vira um insetozinho”, explica a CEO. 

A marca, que atualmente conta com mais de 430 mil seguidores nas redes sociais, passou a tomar proporções cada vez maiores e fincar seu espaço na indústria calçadista nacional e internacional. Barbara conta que a empresa já nasceu pensando em explorar oportunidades no exterior. “Até quando foi pensar o nome da marca, Insecta, a gente queria um nome mais universal, que fosse entendido em diversas línguas. Justamente porque a gente, desde o início, entendeu que esse sapato teria o seu espaço e a sua diferenciação tanto no Brasil quanto em mercados externos”. Antes da pandemia, a empresa chegou a abrir operação no Canadá, que vendia para toda América do Norte. Em 2021, contudo, a marca suspendeu essas atividades, e está em fase de reestruturação para voltar a atuar internacionalmente.

A empresária acredita que “o design é o coração de tudo”. Em sua opinião, além da potencialidade de diferenciar e destacar a marca, o design carrega consigo a responsabilidade socioambiental de pensar o ciclo do produto como um todo, para que, eventualmente, não acabe em um entulho e contribua com a poluição. “A gente sempre brinca aqui que todo o lixo é um erro de design”, comenta. Ela acredita que o designer deve pensar no ciclo do produto desde o nascimento até o fim da vida útil, considerando alternativas como reciclagem, devolução ou compostagem. A gerente de Competitividade da ApexBrasil, Clarissa Furtado, destaca que o design ajuda as empresas a resolver os problemas de grupos de pessoas que até então não estavam atendidos pelas soluções existentes.

Barbara também ressalta as dificuldades enfrentadas para que fosse levada a sério, justamente por ser mulher. “Eu já escutei: ah, vocês estão brincando de fazer empresa, a empresa de vocês é super pequena, vocês precisam se profissionalizar. E já escutei de outras pessoas que, por exemplo, se uma das sócias engravidasse, seria um problema para a empresa, então tem várias pérolas assim ao longo do caminho”, compartilha. Em sua posição de liderança, ela tem buscado trazer impactos positivos e favorecer a representatividade nos espaços de negócios.  

Paixão pelo design

Se empreendedoras tiveram sucesso na internacionalização de suas marcas graças ao design, foi porque contaram com o apoio de especialistas no tema, como Margot Doi Takeda, um nome de destaque no cenário nacional. Com uma coleção de prêmios e participações como jurada em concursos como o Cannes Lion Awards, é sócia-fundadora da A10, uma consultoria de estratégia de marca, design e inovação, parceira da ApexBrasil no Design Export. Sua trajetória na área começou quando, após a graduação em design, teve a oportunidade de ir ao Japão fazer uma especialização e um estágio na área. De volta ao Brasil, trabalhou mais um tempo em agências publicitárias, até que ouviu de um de seus superiores: “Margot, você é tão apaixonada, vai montar o seu negócio!”. Decidiu, assim, dar um salto na carreira, e sua paixão pelo design gerou a A10.

A empresa acumula 27 anos no mercado e um portfólio de peso, com trabalhos realizados para grandes marcas, mais de 1000 cases de sucesso e prêmios nacionais e internacionais. Entre os trabalhos, está a parceria com a ApexBrasil  por meio do DEX. Para Margot, o projeto representa uma excelente oportunidade de reforçar o papel e a relevância do design, além de valorizar as marcas brasileiras no mercado internacional. “Acho que como empresária, a gente vê que chega num momento da vida que o trabalho acaba sendo bem social, sabe? Não é só de design. Eu sinto que isso é realmente pra gente impactar mais o mundo e a sociedade com o trabalho que o Brasil pode oferecer”, explica. 

Sobre o papel do design na internacionalização de marcas, a designer defende que se deve pensar além da aparência ou da funcionalidade do produto.  É preciso levar em conta o valor que se está exportando e como isso pode ser traduzido visualmente. Ela ressalta, também, a importância do equilíbrio entre manter a identidade brasileira e respeitar a identidade cultural dos mercados, buscando sempre entender muito bem o cliente. “A gente tem que entender qual é o comportamento, como ela vive, porque come aquilo ou porque compra aquele produto, né? O nosso desafio dessa nova era é entender o mindset das pessoas”, argumenta.  Nessa mesma linha, a gerente de Competitividade da ApexBrasil, Clarissa Furtado, acrescenta que o design traz a adaptação do produto ou serviço para outros mercados e culturas. “Afinal, ele é um ponto de contato entre a empresa e o consumidor”, finaliza. 

Tema: Promoção Comercial — Qualificação Empresarial — Expansão Internacional
Mercado: Não se aplica
Setor de Exportação: Alimentos, Bebidas e Agronegócios — Economia Criativa — Moda
Setor de Investimento: Outros
Setor de serviços: Não se aplica
Idioma de Publicação: Português

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