Os sabores e combinações exclusivas das barras nacionais agregam valor ao produto, além da produção sustentável. América Latina e Estados Unidos estão entre os principais compradores
Não é só na Páscoa que o mercado de chocolate aquece. O produto “made in Brazil” tem conquistado paladares e prêmios em todo o mundo e crescido ano após ano. Prova disso é o aumento das exportações que, em 2022, alcançaram o segundo melhor resultado nos últimos 20 anos, com US$ 142 milhões, um crescimento de 12,7% em relação a 2021. O recorde em vendas externas foi alcançado em 2005, com US$ 152,3 milhões.
Segundo a gestora do projeto Brazil Sweets & Snacks na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Deborah Rossoni, o aumento das vendas externas está vinculado à maior especialização e refinamento na produção do setor. “Os produtores brasileiros têm investido na produção de um cacau diferenciado e em um produto final requintado. Há muitas combinações que podem ser feitas com o chocolate brasileiro, com frutos da Amazônia, como o cupuaçu e o bacuri, por exemplo, entre outros. Esse é um diferencial que traz ganhos de oportunidade para as vendas externas do país e a ApexBrasil aposta nessa tendência”, explica.
O chocolate Gaudens Cupuaçu, fabricado no Pará, foi condecorado pela Academy of Chocolate, de Londres, em janeiro deste ano. O mesmo concurso já havia premiado duas vezes o Benevides, produzido na Bahia. Um passo importante para assegurar a credibilidade do produto nacional veio da Organização Internacional do Cacau (ICCO), em 2019, quando reconheceu o país como 100% exportador de cacau fino e de aroma. A ICCO é responsável por determinar os pré-requisitos necessários para assegurar a produção de chocolates finos.
Cuidado desde o plantio
Para garantir um chocolate de excelência, os cuidados começam no plantio do cacaueiro, certificando-se da saúde e qualidade das amêndoas e, portanto, do produto final. Por essa razão, os produtores nacionais têm trabalhado na melhoria contínua de técnicas tradicionais e na criação de processos inovadores, além da aplicação de medidas de sustentabilidade na produção. Nascido no sul da Bahia, o sistema Cabruca acumula mais de dois séculos de saberes das comunidades locais e, por isso mesmo, dispensa o uso de agroquímicos que possam prejudicar a flora local. As mudas são plantadas em meio à floresta, e a sombra das árvores nativas possibilita seu crescimento e desenvolvimento, preservando a biodiversidade de cada região.
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Chocolate, Amendoin e Balas (Abicab), Ubiracy Fonseca, o Cabruca faz com que seja possível a produção tree to bar (da floresta à barra), um grande diferencial para o mercado internacional. “O Brasil é um dos poucos países que possui toda a cadeia do chocolate: da plantação do cacau à produção de barras de alta qualidade. E isso nos trás a possibilidade de desenvolver produtos únicos, como, por exemplo, os tree to bar, no qual todo o processo é realizado dentro fazenda, desde a plantação até a embalagem do chocolate”, afirmou.
A marca Baiani é um exemplo do sucesso desse modelo. Situada no sul da Bahia, teve vocação exportadora desde a sua criação, segundo o sócio fundador Tuta Aquino. “Nós sempre tivemos a vocação internacionalista, de compartilhar os sabores do cacau brasileiro com o resto do mundo, apesar da produção ser bem regional. Para tanto, buscar caminhos de exportação foi um processo natural para a empresa”, disse ele. Por essa razão, buscaram o projeto Brazil Sweets and Snacks, realizado em parceria pela ApexBrasil e a Abicab. A partir da mentoria recebida no programa, foi possível verificar potenciais mercados, entender como haveria a melhora da cadeia de produção, das embalagens, estabelecer prioridades, inclusive financeiras, e direcionar o foco para mercados que potencialmente podem se tornar consumidores.
Grandes e pequenos
Se a experiência da Baiani mostra que a exportação está ao alcance de pequenos e médios produtores, com chocolates únicos e de sabores especiais, com alto valor agregado, o mercado internacional também tem espaço para grandes empresas. Com o apoio da ApexBrasil e da Abicab, indústrias de destaque no cenário nacional, como a Garoto, podem chegar a resultados mais significativos em suas exportações. Segundo o diretor da Área Internacional da empresa, Ricardo Rocha, há inúmeros ajustes que precisam ser feitos na hora de exportar e o apoio de quem já sabe esse caminho é fundamental. “Sempre tivemos muita relação com a Apex, que tem nos auxiliado a superar todos os desafios. De fato, foi preciso implementar mudanças estratégicas que nos ajudaram a acelerar e a ter maior sucesso nesses mercados”, disse.
Atualmente, as exportações brasileiras de chocolate são destinadas, em sua maioria, aos países da América Latina, liderados por Argentina (27%), Chile (11%) e Paraguai (10,7%). São Paulo lidera o ranking dos estados produtores de chocolate, com 41,5% da produção, seguido por Minas Gerais (32,7%) e pelo Espírito Santo (11,6%). O Brasil é o sétimo maior produtor mundial de cacau e seus derivados e também ocupa a sétima colocação entre os países exportadores desses produtos, que chegam a mais de 135 países. Em 2022, as exportações brasileiras de em cacau bruto ou torrado, em pó, na forma de manteiga ou pasta chegaram a US$ 228 milhões. Os principais compradores são Argentina (51%), Estados Unidos (20%) e Chile (23%). A produção nacional concentra-se principalmente na Bahia (96,5%), São Paulo (1,3%), Santa Catarina (1,1%), estado que teve um aumento de mais de 1.000% em sua produção, e Pará (0,8%).
Embora o Brasil ainda mantenha maior participação nas vendas internacionais de cacau, mercado que, em todo o mundo, atingiu US$ 23,1 bilhões em 2022, o valor das exportações globais de chocolate é mais expressivo, US$ 33,3 bilhões. A diferença demonstra a preferência do mercado internacional pelo produto manufaturado, já que tem maior valor agregado.