A Agência se comprometeu com a criação, em 90 dias, do projeto Mulheres e Negócios Internacionais.
Na manhã do dia 13 de março, em São Paulo, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) realizou o seminário “Mulheres e Negócios Internacionais”. O objetivo do evento foi abrir um canal de diálogo com empresas brasileiras e instituições de apoio ao empreendedorismo feminino para a estruturação de um projeto com foco em gênero. Ao final do evento, foi apresentado o compromisso da Agência com equidade de gênero, disponível aqui.. A gravação completa do evento pode ser assistida aqui.
De acordo com a diretora de Negócios da ApexBrasil, Ana Paula Repezza, atualmente, a Agência atende cerca de 14 mil empresas, das quais mais de três mil já exportam. Desse total, apenas 343 são lideradas por mulheres, ou seja, menos de 10%. Por isso, a iniciativa visa atrair mais empresas lideradas por mulheres para ações da ApexBrasil e torná-las atuantes no mercado internacional. “A equidade de gênero não é apenas um assunto da moda ou uma tendência, pois gera impacto real no desenvolvimento econômico do nosso país”, destacou Repezza.
Participaram do evento o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, e o diretor de Gestão Corporativa, Floriano Pesaro, além de secretárias e representantes de diversos ministérios, instituições públicas e organizações internacionais, a grande maioria mulheres. Também esteve presente na programação do evento a ex-ministra Dorothea Werneck, primeira presidente da Agência, de 1999 a 2002.
Werneck falou que um novo futuro, com equidade de gênero no comércio internacional, depende de um tripé: setor privado, estado e a sociedade civil, e destacou o papel da ApexBrasil nesse processo. “A Agência transmite capacitação, treinamento, experiência, fornecendo apoio cotidiano para potenciais exportadoras”, relembrou. Dirigindo-se às empresárias, a ex-presidente estimulou a busca pelo comércio exterior, apesar dos desafios impostos para mulheres. “Eu insisto, tentem, pois nós aprendemos com os erros. Reconhecemos a existência de barreiras, agora é preciso pensar em soluções”, ponderou.
Para o presidente ApexBrasil, Jorge Viana, em um país ainda tão desigual como o Brasil, a questão de gênero não pode ser ignorada. “Atualmente, temos a oportunidade de fazer transformações, na Agência, no comércio, nas empresas, e essas transformações se dão a partir de conversas como essas, sobre a inclusão das mulheres”, destacou. Viana afirmou que os debates realizados ao longo do seminário seriam incorporados aos projetos e acordos da ApexBrasil com parceiros de todos os setores.
Nesse sentido, o Diretor de Gestão Corporativa da ApexBrasil Floriano Pesaro, defendeu a iniciativa como uma ferramenta para acelerar o fim da disparidade entre homens e mulheres na chefia de companhias. “A nossa cultura ainda está muito arraigada a ideia de que cabe aos homens a liderança do mundo corporativo. Mesmo hoje, com maior inserção das mulheres no mundo dos negócios, pesquisas mostram que mais de 80% dos cargos executivos são ocupados por homens. Com intuito de mudar essa realidade, a ApexBrasil assume o compromisso com a equidade de gênero”, revelou.
Pesquisa: ainda dá tempo de participar
Se você é proprietária ou é liderança de uma empresa brasileira e tem interesse em negócios internacionais, participe da pesquisa que vai ajudar a ApexBrasil a desenhar novas ações para o projeto Mulheres e Negócios Internacionais. Para responder, clique aqui.
Compromisso ApexBrasil
Ao final do evento, a diretora de Negócios da ApexBrasil, Ana Paula Repezza, apresentou o compromisso da Agência com a equidade de gênero. “Tudo o que discutimos hoje está encapsulado no compromisso da ApexBrasil com equidade de gênero. Esse compromisso não é da diretoria executiva, não é das mulheres da ApexBrasil, é um compromisso institucional da Agência, representada por todos os seus funcionários”, destacou.
O compromisso foi apresentado com um vídeo gravado, com a participação de funcionários da Agência. “Hoje queremos reforçar o compromisso da ApexBrasil com a equidade de gênero na sua força de trabalho e na execução da sua missão institucional, de forma a promover maior participação das mulheres na governança da Agência, bem como na estrutura econômica global, incentivando e apoiando que mais mulheres atuem nos negócios internacionais. Acreditamos que a presença de mais mulheres na exportação, na internacionalização e na atração de investimentos estrangeiros é fundamental para o desenvolvimento de uma economia global sustentável”, disse.
A proposta prevê, ainda, que nos próximos 90 dias a equipe da ApexBrasil detalhe o Programa Mulheres e Negócios Internacionais. “A gente sabe que esse programa vai trazer os grandes pilares de atuação da ApexBrasil: informação, qualificação, promoção comercial e atração de investimentos”, concluiu a diretora de Negócios da ApexBrasil, Ana Paula Repezza.
Desafio conjunto
Ao longo da manhã, os debates giraram em torno de dois painéis: um com representantes de cinco Secretarias de governo, além do Banco do Brasil e do SEBRAE; e outro com representantes de três organizações internacionais ligadas ao comércio exterior. Os painelistas ofereceram reflexões sobre o assunto e compartilharam os esforços realizados em cada instituição na busca pela equidade de gênero.
A Secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Tatiana Prazeres, destacou as diferentes dimensões do comércio exterior e gênero, que inclui mulheres como empreendedoras, trabalhadoras e consumidoras. Segundo dados do Ministério, atualmente 2,9 milhões de mulheres trabalham em empresas que exportam, e graças a um trabalho de desagregação de estatísticas, hoje é possível mapear os setores e destinos de exportação que contam com maior presença de mão de obra feminina. “Dados são a base de qualquer política de comércio exterior que seja sensível a gênero e a gente precisa olhar para isso”, salientou Prazeres.
Também apresentaram projetos ligados a questões de gênero em seus ministérios a Secretária Executiva do Ministério das Mulheres, Maria Helena Guarezi; a Secretária de América Latina e Caribe do Ministério de Relações Exteriores, Gisela Padovan; a Secretária de Assuntos Internacionais e Desenvolvimento, Ministério do Planejamento e Orçamento, Renata Amaral; e a Analista Técnica de Políticas Sociais, Subsecretaria de Mulheres Rurais do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar e agricultura familiar, Patrícia Mourão.
A Gerente Executiva de Negócios Internacionais do Banco do Brasil, Banco do Brasil, Ecila Galhardi, apresentou para o público o Programa “Mulheres no topo”, cujo intuito é apoiar e ajudar essas empreendedoras que querem desenvolver um novo negócio ou ampliar um já existente. “O programa traz muitas soluções para as mulheres poderem se conectar e usar o banco como um viabilizador dos seus negócios. O Banco do Brasil disponibilizou mais de R$ 400 bi em crédito para mulheres empreendedoras aplicarem em suas empresas”, destacou. Para saber mais, acesse: https://www.bb.com.br/site/pro-seu-negocio/mulheres-no-topo/ .
Já a Coordenadora Nacional do SEBRAE Delas, Renata Malheiros, ressaltou os desafios culturais que as mulheres enfrentam para ingressar no mundo dos negócios. “É difícil para todo mundo empreender, mas as mulheres enfrentam desafios adicionais. São crenças limitantes e vieses inconscientes baseados em estereótipos de gênero”, explica. Para enfrentar essas barreiras, o SEBRAE Delas propõe mentorias e a criação de redes de mulheres. Para saber mais, acesse: https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSeb
Os representantes das organizações internacionais que participaram do evento também apresentaram ferramentas úteis para empreendedoras. A Gestora de Projetos e Parcerias do International Trade Center, Anna Zaleski Mori, compartilhou a plataforma Shetrades e Shetrades Invest, voltadas para mulheres exportadoras e mulheres em busca de investimentos, respectivamente. Com cursos e mentorias, esses portais podem contribuir para que empresas lideradas por mulheres tenham mais acesso ao financiamento a exportações, que hoje é 99% direcionado a empreendimentos com lideranças masculinas.
Em nome do Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Gerente do Setor de Integração e Comércio, Fabrizio Opertti, apresentou o Mulheres Connect Americas, projetado para fortalecer as habilidades das empresárias da região. “As mulheres são uma força de trabalho extremamente importantes. A América Latina é a região com maior porcentagem de mulheres empreendedoras, 16,7%, à frente da América do Norte. Mas elas ainda enfrentam dificuldades para acessar esse mercado. Cabe a nós eliminar essas barreiras”, ressaltou Opertti.
A advogada sênior, especialista em gênero do Banco Mundial, Paula Tavares, lembrou que nenhum país consegue se desenvolver sem o acesso igualitário de todas e todos na economia. “Se não houvesse a lacuna de gênero, o PIB per capita global aumentaria em 20%, e 10 milhões de vagas de emprego seriam criadas até 2050”. O comércio cumpre um papel importante em reduzir esses gaps, como foi demonstrado no relatório desenvolvido pelo Banco Mundial, em parceria com a Organização Mundial do Trabalho, “Women and Trade”, de 2021.
A Diretora Executiva do International Chamber of Commerce Brasil, Gabriella Dorlhiac, comemorou a cooperação entre instituições. “Estamos coordenando as ações para potencializar os projetos nessa pauta. Se a gente inserir melhor as mulheres na economia global, a gente pode trazer US$ 28 trilhões na economia global até 2050. O potencial é muito grande, só precisamos implementar as políticas reais, que efetivamente deem acesso às mulheres”, destacou.