E-commerce transfronteiriço do Brasil cresce e se consolida como porta de entrada para pequenas empresas no comércio internacional. Em junho, Agência levará 19 empresas do setor brasileiro de moda para explorar oportunidades de negócios por meio eletrônico nos Estados Unidos
O comércio eletrônico tem se consolidado como uma porta de entrada acessível e estratégica para que pequenas e médias empresas brasileiras alcancem o mercado internacional. Segundo dados da Euromonitor, em 2024, o e-commerce de bens no Brasil movimentou US$ 56,3 bilhões. Em transações internacionais, o país alcançou US$ 12,6 bilhões. Nos últimos cinco anos, o crescimento médio anual foi de 26,3% e a expectativa é que esse movimento siga em ascensão. De 2024 a 2029, a projeção é que o crescimento médio anual do e-commerce transfronteiriço do Brasil seja de 8,5%.
Acompanhando essa tendência e cumprindo o seu papel de promover as exportações do país, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) realizará, nos dias 2, 3 e 4 de junho, em Miami, nos Estados Unidos, uma edição do programa Jornada Exportadora específica para e-commerce no comércio norte-americano e com foco no setor de moda.
O e-commerce deixou de ser apenas uma tendência para se consolidar como um vetor estratégico da economia digital e da competitividade internacional. O Brasil, com sua robusta base de consumidores e infraestrutura digital em expansão, tem potencial para protagonizar esse movimento global — afirma a diretora de Negócios da ApexBrasil, Ana Paula Repezza.
Segundo dados da Euromonitor, em 2024, cerca de 64% da população mundial esteve conectada à internet, o que representa mais de 5 bilhões de pessoas com acesso potencial a bens e serviços por canais digitais.
Jornada Exportadora nos EUA
Voltado para pequenas e médias empresas, o programa Jornada Exportadora é dedicado a marcas que ainda não exportam, mas estão prontas para começar, ou àquelas que estão no início da sua jornada no mercado internacional. Esta será a terceira edição do programa em 2025 – as outras duas edições foram voltadas para os setores de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos e para o setor de calçados, respectivamente. Desta vez, serão, ao todo, 19 empresas do setor de moda interessadas em vender produtos como bolsas, roupas, biquinis, acessórios e calçados via e-commerce para o mercado norte-americano.
“A experiência do Jornada Exportadora é, para muitas dessas empresas, o primeiro passo delas no mercado internacional. É uma oportunidade muito única de aprender na prática como funciona o comércio exterior, conhecer o mercado-alvo de perto e fazer reuniões frente a frente com compradores. Esse contato direto gera confiança, abre portas e acelera o processo de internacionalização, especialmente para quem está começando”, explica a gerente de Competitividade da ApexBrasil, Clarissa Furtado.
Todas as participantes já foram capacitadas pelo Programas de Qualificação para Exportação (PEIEX) da ApexBrasil e são iniciantes no processo de exportação. Do total, oito são da região Nordeste, uma do Norte, três do Distrito Federal, quatro do Sudeste e quatro da região Sul. O programa conta com o apoio do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Nacional), que está fornecendo passagens aéreas e hospedagens para 15 das empresas participantes.
As 19 empresas que compõem a delegação têm liderança feminina, algo que ocorreu organicamente durante o processo de inscrição. “A ApexBrasil, por meio do programa Mulheres e Negócios Internacionais (MNI), aplica uma lente de gênero em todos os seus programas e projetos. Empresas lideradas por mulheres já têm, na maioria das ações da agência, pontuação extra no processo seletivo. No entanto, nessa ação específica, tivemos pela primeira vez, de forma orgânica, uma delegação composta em sua totalidade por empresas comandadas por mulheres, o que revela que empresárias brasileiras estão buscando cada vez mais conquistar espaço no comércio exterior e o potencial do e-commerce como porta de entrada para esse mercado”, avalia Ana Repezza, idealizadora do programa MNI da ApexBrasil.
Em Miami, as empresárias terão a oportunidade de participar de workshops, fazer visitas técnicas e realizar reuniões de negócios com compradores estadunidenses.
O mercado norte-americano de e-commerce
Além de ser a maior economia global, os Estados Unidos são o segundo maior mercado de vendas eletrônicas do mundo, atrás somente da China. Em 2024, os dois países responderam juntos por US$ 2,6 trilhões em transações online — o equivalente a 61,2% de todo o e-commerce mundial. Individualmente, a China foi responsável por 30,7% desse volume (US$ 145 bilhões), enquanto os Estados Unidos contribuíram com 30,5% (US$ 113,1 bilhões).
Entre as categorias mais populares de vendas eletrônicas nos Estados Unidos, vestuário ocupa o primeiro lugar, com 43%. Em seguida estão calçados (33%), comidas e bebidas (27%), cosméticos (24%) e produtos para pets (22%). Os principais marketplaces e plataformas de moda nos EUA são Shein (26%), Walmart (20,1%) e Amazon (13,4%).
Diante do atual cenário de mudanças nas políticas tarifárias globais, o Brasil se destaca por manter uma estrutura estável e atrativa. Esse posicionamento cria uma janela estratégica de oportunidade para as marcas brasileiras ampliarem sua competitividade internacional. Com condições mais favoráveis em comparação a outros mercados, as empresas nacionais têm mais espaço para se destacar, sobretudo no comércio digital, onde a sensibilidade ao preço desempenha um papel decisivo no comportamento de compra.
Do Brasil para o mundo via e-commerce
Diretamente do Distrito Federal, a marca de bolsas artesanais Painer Brasil é uma das participantes dessa edição do Jornada Exportadora. A marca vende pelo comércio eletrônico há 10 anos para todo o Brasil e, há cerca de um ano, iniciou o seu processo de internacionalização. “Quando começamos a receber pedidos de fora do país, percebemos o potencial do nosso produto para o comércio exterior”, conta Anna Luiza Chaves, CEO da Painer Brasil. “Nossos produtos são bolsas artesanais com design inovador e exclusivas. A gente preza para que, preferencialmente, nossas bolsas sejam confeccionadas com matéria prima sustentável. Nossos produtos imprimem muito o DNA brasileiro. A gente faz questão de mostrar a brasilidade nas peças”, reforça.
Depois de fazer pequenas vendas pontuais para fora do país, Anna Luiza conta que buscou o apoio da ApexBrasil para se preparar melhor para esse mercado. “Em um ano, fizemos o PEIEX, participamos de outras edições do programa Jornada Exportadora e de rodadas de negócios organizadas pela Apex, e nesse tempo já vendemos para Inglaterra, França e Japão”, afirma a CEO.
No ano passado, Anna Luiza participou do E-Xport Meeting, evento da ApexBrasil voltado para o e-commerce internacional. Na ocasião, recebeu uma capacitação para atuar na plataforma Amazon - um dos principais marketplaces e plataformas de moda dos Estados Unidos. Por meio do programa E-Xport, a ApexBrasil realiza parcerias com as principais plataformas de e-commerce do mundo, como Alibaba, Mercado Livre e outras, além da Amazon, e capacita empresas brasileiras para utilizarem da melhor forma possível esses meios.
Desde a capacitação, Anna Luiza conta que vem pensando em adaptar seus produtos para vender pela Amazon. “É um espaço muito competitivo”, comenta. Visitar, portanto, o mercado norte-americano neste momento será muito oportuno para a Painer. “As expectativas de participar dessa edição em Miami são as melhores. Vamos conhecer mais sobre esse mercado norte-americano, fazer network, e quem sabe em breve a gente comece a participar efetivamente das feiras de Miami e a exportar para os Estados Unidos”, destaca a CEO. “Desde o início eu soube que atuar no comércio eletrônico seria o caminho da Painer. Nunca tivemos loja física. Nossa ideia é seguir expandindo via e-commerce e nos adaptando para cada mercado”, afirma Anna Luiza que acaba de começar uma pós-graduação em gestão de comércio exterior.
Outra marca focada em vendas online que quer conquistar o mercado internacional, principalmente o norte-americano, com o apoio da ApexBrasil é a Flat at Least, do Rio Grande do Sul. Criada há três anos pela técnica em informática Andrea Biasuz, a marca produz calçados de couro com pegada sustentável. Com o slogan “leve para onde for”, Andrea explica que as sandálias “podem ser usadas tanto em reunião de trabalho como na praia”. Depois de fazer o PEIEX e participar do programa Elas Exportam - que compõe o escopo do MNI - Andrea afirma que muitas portas se abriram. "O mercado internacional será um grande reconhecimento, num espaço altamente competitivo, para mostrar que o Brasil sabe fazer produtos únicos e de qualidade. A minha jornada não existiria sem a Apex, ela mudou o rumo da minha empresa. O PEIEX me deu o overview de exportação, e o Elas Exportam me apresentou outros mercados", reconhece. Segundo Andrea, seu objetivo é levar a marca para o mercado norte-americano. “Quero chegar em 2026 com 30% das nossas vendas para os Estados Unidos”, reforça.
Para Raíssa Barbosa, sócia-diretora da Fils to, empresa de sportwear de Natal (RN), a expectativa de começar a vender para fora do país via e-commerce com o apoio da ApexBrasil está nas alturas. “Toda nossa operação é focada nas vendas online. Vendemos super bem aqui no Nordeste e levar a empresa para outros canais digitais exportando vai ser muito bom”, destaca. “Fiz todo o treinamento do PEIEX para ser capacitada sobre todos os mecanismos e ferramentas para exportação e me sinto pronta para começar essa jornada”, afirma. A Fils to é uma marca autoral de fitwear feminina que nasceu no Rio Grande do Norte em 2022. “Temos o propósito muito claro de criar produtos que expressam a autenticidade de cada mulher, estimulando um estilo de vida ativo”, explica a sócia-diretora. “É uma expectativa muito alta que estou de imaginar nossas peças em outro cenário, em novos mercados”, conclui Raíssa.
Confira aqui todas as empresas participantes.
Sobre a ApexBrasil
A ApexBrasil atua para promover os produtos e serviços brasileiros no exterior e atrair investimentos estrangeiros para setores estratégicos da economia brasileira. Para alcançar os objetivos, a Agência realiza ações diversificadas de promoção comercial que visam promover as exportações e valorizar os produtos e serviços brasileiros, como missões prospectivas e comerciais, rodadas de negócios, apoio à participação de empresas brasileiras em grandes feiras internacionais, visitas de compradores estrangeiros e formadores de opinião para conhecer a estrutura produtiva brasileira entre outras plataformas de negócios que também têm por objetivo fortalecer a marca Brasil.